Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Luciano Hang: Bilionário bom de briga, dono da Havan é investigado no STF

O extravagante empresário afirma que não é bolsonarista, mas um ativista econômico que tem pavor da esquerda

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 11h39 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00

O empresário Luciano Hang pertence ao seleto grupo dos homens mais ricos do mundo desde 2019. Segundo a revista Forbes, é um dos 45 brasileiros a ostentar uma fortuna na casa dos onze dígitos — 3,6 bilhões de dólares, o equivalente a 18 bilhões de reais. É dono de administradora de imóveis, agência de viagem, pequenas hidrelétricas e um hotel. Seu empreendimento mais vistoso é a rede de lojas de departamento Havan, que há 34 anos ocupava um local de pouco mais de 40 metros quadrados no interior de Santa Catarina e hoje tem 149 unidades em todo o país e emprega 20 000 pessoas. Nos últimos tempos, porém, a atividade empresarial de Hang ficou em segundo plano, perdendo espaço para a sua incrível capacidade de chamar atenção e de se meter em confusões, a maior parte delas envolvendo política, quase todas de alguma forma relacionadas ao governo Bolsonaro. Mas nem sempre foi assim.

Há quatro anos, Hang pegou um táxi para visitar uma de suas lojas em Londrina, no Paraná. Ao ouvir qual seria o destino, o motorista respondeu: “Ah, a loja da Dilma e do Lula?”. A resposta intrigou o empresário catarinense, que a partir de então começou a perguntar aos seus clientes se eles sabiam quem era o dono da Havan. Um deles, em Juiz de Fora, fez o alerta: “Aqui na cidade, um monte de gente não compra porque dizem que a loja é da Dilma e do Lula”. Não era um caso isolado. A deputada Carla Zambelli, antes de ser eleita, já espalhava a mesma mentira nas redes sociais. Diante da possibilidade de a confusão prejudicar seu negócio, Hang resolveu se apresentar como o verdadeiro proprietário em propagandas, mas só deixou o anonimato mesmo quando embarcou, com seu discurso antipetista, na campanha presidencial de Jair Bolsonaro. E o fez de uma forma, digamos, extravagante, estrelando vídeos nos quais aparecia vestido de Lula presidiário ou de palhaço. Embora pareça, ele garante que não é nem nunca foi bolsonarista. Leia a entrevista completa.

ÍDOLO – Bolsonaro: “honesto”, “humilde”, “coerente”, “uma pessoa do bem” – (Sergio Lima/AFP)

Essa tentativa de dissociação de imagem é providencial. Em julho, uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão das contas no Twitter e no Facebook de empresários e políticos bolsonaristas no âmbito do inquérito que apura uma rede que promove ataques a membros da Corte e ao Congresso. Hang foi um dos atingidos pela canetada judicial e se tornou alvo da investigação. Antes de suas contas em redes sociais serem tiradas do ar, teve seu celular apreendido pela Polícia Federal e seu sigilo bancário quebrado. A suspeita é que ele financie uma milícia digital a serviço de Bolsonaro desde a campanha presidencial de 2018. O empresário nega a acusação e lamenta o fato de não poder mais interagir com seus 8,5 milhões de seguidores. “Eu sou muito atacado por blogs, sites e jornais de esquerda, que falam mentiras sobre mim. E aí processamos cada um. É assim que tem que ser”, diz, defendendo a liberdade de expressão.

Com orgulho, Hang afirma ser um péssimo inimigo, porque não desiste de um litígio. Diz ter 100 advogados à sua disposição e uma clientela de mais de trinta processados. Uma das disputas envolve a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em janeiro de 2019, o empresário disse em suas redes sociais que a OAB é uma vergonha, está sempre do lado errado e vive da desgraça alheia. E arrematou: “Parecem porcos que se acostumaram a viver num chiqueiro, não sabem que podem viver na limpeza, na ética, na ordem e principalmente ajudar o Brasil. Só pensam no bolso deles, quanto vão ganhar com a desgraça dos outros. Bando de abutres”. A OAB moveu uma ação contra o empresário — que, em junho deste ano, foi condenado a pagar mais de 300 000 reais em indenização. Suas publicações, consideradas ofensivas, foram excluídas.

Continua após a publicidade
PROVOCAÇÃO – Lula: Hang ofereceu um emprego em suas lojas ao petista – (Fabrice Coffrini/AFP)

A lista de alvos do empresário é bem parecida com a de Bolsonaro e reúne líderes e partidos de esquerda. O PT tem um lugar de destaque na relação. Nas lojas da Havan, todos os caixas são numerados, com exceção do 13, que é coberto por uma bandeira do Brasil. Há outras provocações. No ano passado, Hang ofereceu a Lula um emprego quando o ex-presidente deixasse a prisão em Curitiba. Não era à vera, obviamente, mas apenas uma deixa para dizer que o petista não gosta de trabalhar. Os petistas não reagem a ele com a mesma sanha, mas também não deixam passar batido. Quando o empresário comprou um jatinho avaliado em cerca de 260 milhões de reais, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) disse que o dono da Havan é um dos melhores símbolos para ilustrar a elite corrupta e hipócrita do Brasil. Mas as encrencas de Hang são suprapartidárias. Ele foi alvo até de Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro que diz enfrentar dificuldades financeiras. “Esse seu Havan vem aqui dizer: ‘Ah, vou ajudar’. Vai ajudar o c******! Você vai comprar aviãozinho e se vestir de Zé Carioca. Você é um palhaço. É por causa de empresário como você que o Brasil tá nessa merda.” Dessa vez, Hang não decidiu processar e ainda disse que Olavo tinha razão, porque estava na trincheira, lutando sozinho. “E eu o ajudei, sim. Comprei e sorteei os livros dele.” O encrenqueiro, pelo jeito, não gosta de uma briga caseira.

O envolvimento de Hang com a política não rendeu apenas adversários, mas lucro e influência. Em 2019, o empresário, filho de operário e formado em curso tecnólogo de processamento de dados, estreou na seleta lista de bilionários brasileiros. Neste ano, o seu patrimônio saltou. Mesmo com a pandemia do coronavírus e a crise econômica, Hang projeta crescimento de sua empresa. Além das cifras bilionárias, ele amealhou influência no governo. Na famosa reunião ministerial de 22 de abril, o presidente cobrou do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) solução para uma obra embargada do empresário. Hang diz que, após essa declaração vir à tona, ligou para Bolsonaro. “Perguntei para o presidente: ‘Por que o senhor falou disso na reunião ministerial?’. Ele respondeu: ‘Luciano, eu vi a sua live nas redes sociais’.”

AMIGO – Olavo de Carvalho: “E eu o ajudei, sim. Comprei e sorteei os livros dele” – (Mauro Ventura/.)

Apesar de sua imagem estar associada à de Bolsonaro e os muitos adjetivos elogiosos dirigidos a ele — “honesto”, “humilde”, “coerente”, “uma pessoa do bem” —, o dono da Havan rejeita o rótulo de bolsonarista. Ele costuma afirmar que não tem partido político nem político de estimação. Depois das confusões causadas com seu envolvimento na política, Luciano Hang diz que pretende mudar o seu status para ativista econômico. “Porque eu quero mais a mudança da economia que a mudança política”, justifica ele. Em razão disso, por ora, Hang descarta participar das eleições municipais. Só voltará atrás em sua decisão caso em Brusque, sua cidade natal, desponte um candidato da esquerda. “No Brasil, a esquerda, em sua grande maioria, apoia o comunismo. Eu não quero ver o Brasil como a Venezuela”, declara. Para ele, o importante é que hoje todos os clientes da Havan sabem quem é Hang — e que ele não tem nenhuma relação com o PT.

Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.