Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Homem que tentou jogar avião no Planalto queria militares no poder

A informação consta de um depoimento dado pelo sequestrador à Polícia Federal pouco antes de aparecer morto num hospital de Goiânia

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 jan 2024, 16h17

No dia 29 de setembro de 1988, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição transformou um voo da Vasp que fazia a rota de Porto Velho (RO) para o Rio de Janeiro em um dos maiores pesadelos já vividos pela aviação brasileira. Com um revólver, ele rendeu a tripulação e ordenou que o piloto desviasse para  Brasília. Havia 95 passageiros a bordo. A intenção dele, de acordo com a versão oficial,  era jogar o avião sobre o Palácio do Planalto, num protesto contra o governo do então  presidente José Sarney.

Raimundo foi convencido a seguir para Goiânia, foi baleado no aeroporto e morreu no hospital. A história é contada no filme O Sequestro do Voo 375, lançado recentemente. Raimundo tinha sido demitido de uma obra e teria ficado em situação difícil por não conseguir encontrar emprego, por isso decidiu praticar o atentado.  Essa, no entanto, não é a versão que aparece em uma investigação sigilosa do governo federal realizada à época pela  Polícia Federal e pelos serviços de inteligência.

Raimundo foi interrogado pela Polícia Federal no dia 2 de outubro, quando tentava se recuperar de ferimentos no Hospital Santa Genoveva, em Goiânia, para onde foi levado após receber um tiro na nádega. Ele contou que trabalhou para a Construtora Mendes Júnior no Iraque por dois anos, período em que se ofereceu às autoridades militares iraquianas para virar combatente na guerra do país contra o Irã, pedido que foi negado. Raimundo afirmou que teve a ideia de sequestrar o avião um dia antes do voo, devido ao sofrimento do povo brasileiro, “principalmente pela falta de moradia, pela corrupção”.

reprodução
Depoimento de Raimundo Nonato (reprodução/Reprodução)

Objetivo era devolver governo aos militares

O delegado que colheu o depoimento insistiu que Raimundo explicasse melhor sua intenção ao sequestrar o avião. “Foi uma revolta pessoal por ver pessoas passando fome, morando debaixo de viadutos, pessoas feridas dormindo ao relento”, disse.

Continua após a publicidade

Ele acrescentou que queria o  país dirigido pelos militares. “Embora sendo o Presidente seu conterrâneo, entende o interrogado, mesmo assim, que o governo deveria passar para os militares”, diz trecho do depoimento. “Na época do governo do general João Baptista de Figueiredo a situação era bem melhor”,  ressaltou.

reprodução
Depoimento de Raimundo Nonato (reprodução/Reprodução)

O sequestrador afirmou que sua intenção era levar o avião a Brasília, onde pretendia “contactar “o Ministério do Exército e exigir que os militares assumissem o poder, sem realização de eleições.  Raimundo confidenciou que teve problemas mentais quando tinha entre 15 e 16 anos, e que, certa vez, chegou a ficar amarrado durante a um acesso de loucura.

A morte do sequestrador nunca foi devidamente esclarecida. Foram levantadas algumas hipóteses de envenenamento, entre elas a de envenenamento, mas nada foi comprovado. O diretor do hospital chegou a declarar que a morte de Raimundo era “um fato inusitado na medicina”. Em retaliação, o serviço de inteligência do governo produziu um relatório listando supostas “ações subversivas” do médico.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.