“É o crime da moda porque é rápido e vantajoso para os criminosos. Indivíduos que antes agiam no roubo de veículos e cargas e até no tráfico de drogas estão migrando” – José Carlos Fernandes da Silva, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas.
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De tempos em tempos, determinados crimes começam a se repetir com alta frequência em uma região ou por todo o país e acabam virando moda. No estado de São Paulo, o crime do momento é a explosão de caixas eletrônicos para retirar o dinheiro contido neles. O delito ainda é relativamente novo no Brasil: começou no Nordeste por volta de um ano atrás, seguiu para o Sul e agora ganhou corpo no estado mais rico da federação. Por isso, os bandidos ainda estão se adaptando à descoberta e, enquanto testam a medida certa de explosivos, acabam destruindo agências bancárias inteiras e assustando a população.
A Secretaria de Segurança de São Paulo não divulga a quantidade oficial de casos, mas representantes da polícia estimam que pelo menos 30 caixas foram explodidos no último mês no interior e na capital. Somente na madrugada da última quarta-feira, duas agências do Banco do Brasil – uma em Cajamar, na Grande São Paulo, e outra na Vila Sônia, zona sul da capital paulista – foram destruídas porque os criminosos exageraram na quantidade de explosivos.
De acordo com o titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, José Carlos Fernandes da Silva, os bandidos da região descobriram a vulnerabilidade dos caixas eletrônicos. “É mesmo o crime da moda porque é rápido e relativamente vantajoso para eles. Antes os criminosos usavam maçaricos e furadeiras, agora demoram cerca de um minuto e 24 segundos entre a explosão e a fuga, não precisam necessariamente render ninguém e conseguem muito dinheiro de uma vez”, relata o delegado. “Por causa disso, indivíduos que antes agiam no roubo de veículos e cargas e até no tráfico de drogas estão migrando”, completa.
O maior alvo são unidades bancárias que ficam em locais afastados e fora de agências. De acordo com a Tecban, empresa responsável pelos caixas da rede Banco 24 horas, de agosto de 2010 até esta quarta-feira, 60 dos 12.000 terminais da rede espalhados pelo país foram explodidos. “O número pode parecer pequeno, mas o prejuízo é grande para todo o sistema financeiro”, afirma o gerente de segurança coorporativa da empresa, Vanderlei Reis.
Solução – Segundo Reis, a Tecban já estava pesquisando formas de combater o crime desde 2009. Ele destaca um dispositivo utilizado com sucesso em países da Europa que aplica um jato de tinta vermelha ou rosa nas notas quando o caixa é violado ou as queima parcialmente. Assim, as cédulas perdem o valor legal e são facilmente rastreadas pela polícia. “Na França, Bélgica e Suíça, o sistema inteligente fez com que os ataques caíssem para quase zero”, relata. O gerente conta que a Tecban já estava desenvolvendo o dispositivo para suas máquinas quando o crime chegou ao Brasil. Hoje, todos os 12.000 caixas possuem o mecanismo.
Quando a quantidade de explosões aumentou, a Tecban e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) procuraram o Banco Central para regulamentar o sistema e implantá-lo em todos os caixas do país. Segundo Vanderlei Reis, o Bacen aprovou o dispositivo e as partes estão em negociação para que seja editada uma norma oficial. “A proposta é que as cédulas tingidas que os bandidos desistiram de levar sejam recuperadas e encaminhadas ao Banco Central, que as analisa, destrói e substitui por novas”, detalha o gerente da Tecban.
Entre as sugestões dos bancos está também a tipificação do crime contra os caixas eletrônicos, que hoje é caracterizado como furto. “Esse crime tem pena branda e sem agravantes. Em outros países, esse ataque é classificado como crime contra o sistema financeiro, com punição proporcional ao dano que causa”, argumenta Reis. Para completar o combate ao delito, o gerente sugere também a conscientização dos brasileiros de que as notas manchadas não devem ser aceitas. Quem levar uma delas ao banco, terá que explicar como a recebeu e poderá ser investigado.
Moda – O professor de direito penal da Universidade de São Paulo Davi Teixeira de Azevedo lembra que os crimes costumam seguir uma sazonalidade relacionada a dificuldades específicas encontradas pelos bandidos. “Quando começaram a reforçar a segurança dos bancos, impedindo os assaltos, eles passaram para o sequestro-relâmpago. Depois de um tempo ficaram visados e foram direto aos caixas, até descobrirem a agilidade dos explosivos”, descreve o especialista.
Assim começa a acontecer também com os assaltos a joalherias de shoppings, por exemplo. O crime ainda é comum, mas o reforço da segurança começa a espantar os bandidos, o que, para o professor, é a solução para combater a repetição. “Ações como diminuir o valor de saque nos caixas eletrônicos, tirá-los de regiões afastadas e colocar vigilantes noturnos podem ajudar. Os transtornos para clientes e empresários podem existir, mas os criminosos vão perceber que o custo benefício não vale a pena e reduzir os ataques”, sugere.