Repleta de jovens, cidade universitária que viveu a tragédia do incêndio na boate Kiss suspende todo tipo de comemoração. Última festa ocorreu no ginásio que, horas depois, começou a receber corpos das vítimas da tragédia
Por Luís Bulcão, de Santa Maria
9 fev 2013, 15h57
Foi a última noite feliz nos últimos 15 dias. Em uma grande festa realizada no Farrezão, o Centro Desportivo Muncipal de Santa Maria (CDM), Marilinda de Abreu Corrêa, de 16 anos, foi coroada rainha do Carnaval 2013. Já era madrugada do dia 27. Dentro de minutos, as mesmas quadras do complexo onde ocorreu a grande final do concurso – onde estavam presentes todos os promotores da folia da cidade, representantes de clubes, escolas de samba e prefeitura – começariam a receber as pilhas de corpos trazidos da boate Kiss e a cidade começaria a viver os momentos mais traumáticos de sua história.
“No retorno da festa, passamos em frente à boate. Como só tinha fumaça, achei que o fogo já tinha terminado. Depois é que fomos nos dar conta do tamanho do incêndio”, lembra a rainha. Mesmo com a coroa, Marilinda, que cursa o terceiro ano do Ensino Médio e se prepara para prestar vestibular e concorrer a uma vaga nos cursos de fisioterapia e educação física, ficou sem reinado. Os tamborins e trompetes ficarão mudos. Não vai haver serpentina. Ninguém vai jogar confetes. Enquanto o Brasil inteiro inicia, a partir dessa sexta-feira, a maior folia do planeta, Santa Maria e pelo menos outros 21 municípios da região central do Rio Grande do Sul permanecerão calados. “Ninguém está em clima de Carnaval”, diz a jovem. Como praticamente todos os santa-marienses, Marilinda também conhecia pessoas que estavam na boate e perderam a vida.
Leomir Girondi, presidente do Avenida Tênis Clube (ATC), que aguardava receber mil foiliões nas quatro noites de Carnaval promovidas pelo ATC, conta sobre a mudança abrupta de planos em Santa Maria. “Cancelamos todos os eventos naquele domingo mesmo. Ainda tem gente hospitalizada, alguns em estado grave”, explica. O Carnaval no clube teria um show do funkeiro carioca Mr. Catra, que também já se apresentou na Kiss.
Girondi preside ainda a Associação de Entidades Sociais e Recreativas de Santa Maria e confirma que todos os outros três clubes que programavam eventos de Carnaval – Clube Dores, Sociedade Concórdia de Caça e Pesca e Clube de Atiradores Esportivo – também cancelaram as festas.
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Não haverá samba nem na avenida. Para não colidirem com as festas dos clubes e nas demais cidades do estado, as escolas de samba de Santa Maria desfilam fora de época. Em 2013, os desfiles estavam marcados para ocorrer entre 8 e 10 de março. A prefeitura já divulgou o cancelamento do evento. As demais cidades da região – muitas delas que também contabilizaram vítimas em Santa Maria -, não vão realizar Carnaval. Com um trauma tão recente e ainda aberto, a alegria foi adiada para o ano que vem.
O que mobiliza a população da cidade, no momento, é a corrente de pensamento positivo pela recuperação dos pacientes ainda hospitalizados. Doze dias após o incêndio, 65 pessoas continuavam hospitalizados em 12 hospitais do Rio Grande do Sul na sexta-feira. Comparado ao registro realizado de quarta para quinta, quando 10 pacientes receberam alta, o ritmo de liberações sofreu uma pausa. Um paciente precisou novamente do auxílio de aparelhos para respirar e o número de feridos utilizando respiração mecânica, que na quinta era de 18, subiu para 19 na sexta. Outros 46 continuam internados, sem a necessidade da ajuda de aparelhos. A maioria dos pacientes, 40, é atendida em hospitais de Porto Alegre. Em Santa Maria, 22 pessoas estão internadas. Canoas, na Região Metropolitana, recebe outras duas vítimas e um paciente é atendido em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha.
Ainda mergulhada no luto, a cidade enfrenta uma cruzada por justiça. Mas muito além da caça aos culpados, Santa Maria tornou-se um símbolo de mudança necessária em todo o Brasil. A partir da tragédia, o país que tem calendário repleto de grandes eventos acordou para a segurança em áreas de concentração de público, os padrões de segurança contra incêndios e as normas que, apesar de estabelecidas, sempre foram ignoradas.
Discurso de Lula defendendo juros menores é correto, diz Nelson Marconi
VEJA Mercado em Vídeo desta sexta-feira recebeu o economista e professor da FGV Nelson Marconi. Entre outros assuntos, ele disse que inflação brasileira abre margem para cortes de juros mais agressivos, apesar de cenário americano, e comentou sobre a empolgação do mercado com a Petrobras de Lula. O programa também tratou da estreia da revista VEJA NEGÓCIOS com o redator-chefe de VEJA José Roberto Caetano.
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