Em conversa grampeada, investigados citam ex-chefe de gabinete da Secretaria da Educação como ‘nosso homem’
Fernando Padula seria "amigo" que teria orientado Coaf a mudar aditamento em contrato para aumentar o valor pago à cooperativa; ele nega envolvimento no caso
Grampos telefônicos feitos pelos investigadores da Operação Alba Branca mostram conversas do suposto operador do esquema que fraudou contratos de fornecimento de merenda em São Paulo, Marcel Ferreira Julio, com o ex-chefe de gabinete da Casa Civil paulista, Luiz Roberto dos Santos, conhecido como Moita, e um integrante da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), centro das investigações da operação da Polícia Civil. O conteúdo dos grampos telefônicos foi obtido e publicado hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Nas conversas interceptadas pela Polícia, Moita diz a Marcel ter recebido uma orientação de Fernando Padula, ex-chefe de gabinete da Secretaria de Educação de São Paulo, a respeito de um aditamento em um contrato da Coaf. Padula teria indicado que, ao invés de protocolar na Secretaria um aditivo ao contrato, a cooperativa solicitasse um reequilíbrio econômico do acordo. Assim, o valor contratado seria aumentado, e não mantido, em função de “atualização monetária de dólar, aquelas coisas”, conforme as palavras de Moita ao telefone.
Filiado ao PSDB desde 1993, Fernando Padula integrou as administrações tucanas em São Paulo desde 1999. Ele chefiou o gabinete da Educação estadual de São Paulo entre 2007 e ontem, quando o novo secretário da pasta, José Renato Nalini, assumiu o comando e o exonerou. Em 2013, Padula assumiu interinamente o cargo de secretário-adjunto da Educação paulista.
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No diálogo entre Moita e Marcel, o ex-chefe de gabinete da Casa Civil de São Paulo ainda informa o perador de que o então secretário de Educação, Herman Voorwald, havia perdido o cargo. Exonerado da Casa Civil um dia antes da deflagração da Alba Branca, Moita aparece nos grampos cobrando agilidade no protocolo para reajustar no valor do contrato porque Voorwald “é o cara que estava na frente com isso, eu nem sei se continua, então protocola logo”.
Logo em seguida, segundo o relatório da Polícia Civil, Marcel ligou ao vendedor da Coaf César Augusto Lopes Bertholino, pedindo agilidade no protocolo do reequilíbrio econômico do contrato junto à Secretaria de Educação.
O lobista contou que, embora Herman Voorwald tivesse perdido o cargo, “o nosso amigo” continuaria no governo e havia dado a orientação pela troca de “aditivo” por “reequilíbrio econômico” na solicitação. Segundo a polícia, o “amigo” citado pelo suposto operador seria Fernando Padula.
O trecho do grampo reproduzido abaixo mostra o relato de Marcel a César e a menção ao “nosso amigo”.
Marcel: Tudo, eu to no Palácio, o Herman caiu, secretario tá.
César: Ah é?
Marcel: Acabou de cair, o Geraldo mandou ele embora, por isso ele me chamou aqui, tá indicando outro, o nosso amigo aqui tá por enquanto lá. Outra coisa, ele me chamou aqui pelo seguinte, ligou lá da secretaria, é o documento que eu dei pra ele fazer do protocolo, o Carlinhos fez errado, ele pôs aditivo, é reequilíbrio, reequilíbrio, é o, mesma coisa que tá no papel, só não põe aditivo, põe reequilíbrio, quer que eu te mande por WhatsApp?
Ao Estado de S. Paulo, Fernando Padula negou ter tratado de contratos da Coaf com o ex-secretário da Casa Civil paulista e afirmou não ter havido nem aditivo nem reequilíbrio econômico no contrato em questão.
Filho do ex-deputado estadual Leonel Júlio, Marcel Ferreira Júlio foi citado pelo ex-presidente da Coaf Cássio Izique Chebabi, que fechou delação premiada com o Ministério Público de São Paulo, como intermediário de propinas dos contratos da cooperativa com políticos, a exemplo do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), e o secretário de Logística e Transportes do governo Geraldo Alckmin, Duarte Nogueira.
Capez nega as acusações feitas pelos presos da operação da Polícia Civil. Duarte Nogueira se diz “estarrecido e chocado” com as acusações e estuda uma interpelação judicial por calúnia e difamação contra quem o citou no caso.
Operação Alba Branca – Conforme revelou a coluna Radar, de Vera Magalhães, a operação Alba Branca resultou na prisão de seis pessoas suspeitas de fraudes em contratos para o fornecimento de merenda em troca de pagamento de propina para agentes públicos.
Ainda segundo o Radar, interceptações telefônicas dos integrantes da Coaf e depoimentos dos presos citam, além de Capez e Duarte Nogueira, os deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB) e o deputado estadual Luiz Carlos Gondim (SD).