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Dois terços dos ataques às escolas aconteceram no último ano

Bullying, machismo e isolamento estão entre as características comuns na maior parte dos ataques, que escalaram desde 2022

Por Lucas Mathias Atualizado em 20 jun 2023, 19h43 - Publicado em 20 jun 2023, 19h21

O ataque a uma escola na cidade de Cambé (PR), na manhã de segunda-feira, 19, se somou à extensa lista de crimes desse tipo ocorridos no Brasil nos últimos meses. De fevereiro de 2022 até aqui, foram 19 casos, ou seja, mais de um por mês. O mapeamento, ainda em estado preliminar, é da Faculdade de Educação da Unicamp, e registrou, desde 2002, 32 casos em que um aluno ou ex-aluno atacou a própria escola. 

Ao todo, nos últimos 21 anos, 32 escolas foram atacadas: 14 estaduais, 12 municipais e 6 particulares — no crime cometido em Aracruz, no ano passado, o mesmo atirador atacou uma escola estadual e uma particular. Foram contabilizadas 38 vítimas fatais ao todo: 27 estudantes (16 meninas e 11 meninos), quatro professoras, uma coordenadora e uma inspetora, além do suicídio de cinco atiradores. 

“O estudo foca nas escolas, mas com autores que façam parte da comunidade escolar. Ou seja, nos dados mapeados, levantamos apenas aqueles praticados por alunos e ex-alunos. O primeiro caso, no mapeamento, é de 2002, em Salvador, e o último foi ontem, em Cambé. Mas até 2021, foram 12 casos, em 20 anos. E depois, de 2022 para cá, tivemos 19 casos, uma explosão”, explica Cleo Garcia, que conduz a pesquisa orientada por Telma Vinha.

Segundo o estudo, não há nada que indique por que os ataques acontecem em uma escola e não em outra. A maior parte dos casos, no entanto, acontece em colégios com estudantes de nível socioeconômico de médio a alto — no geral, não em escolas de regiões mais vulneráveis. 

O perfil predominante dos autores é de um jovem (o mais novo tinha 10 anos e o mais velho, um ex-aluno, 25 anos), branco e do sexo masculino. Também é notado de maneira recorrente um isolamento social, ou seja, jovens que têm relações interpessoais restritas, e valores opressores: misoginia, homofobia e racismo, por exemplo. Além disso, o gosto pela violência e o culto a armas aparecem como padrões, assim como uma busca por reconhecimento em determinado público.

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O fascínio por armas, inclusive, se materializa na prática: se excluídos os suicídios dos atiradores, foram 33 mortes nesses ataques; dessas, 32 foram provocadas com uma arma de fogo e uma, com uma faca. Além disso, dentre os crimes mapeados, 15 atiradores utilizaram armas de fogo: seis tinham a arma em casa, seis compraram de terceiros e em três casos a origem do objeto é desconhecida.

De acordo com o estudo, a cooptação desses jovens, no geral, acontece por meio da interação em jogos online ou fóruns de discussão sobre os games, como o Discord.

“Esses adolescentes vêm de uma pandemia, que nos foi imposta, e de um isolamento. Foram empurrados, praticamente, para o mundo virtual. Tudo o que viviam na realidade, passaram a viver virtualmente. Só que nesse ambiente você tem uma liberdade maior, não tem que prestar contas para ninguém. Além disso, o que antes era feito na chamada deep web, passou para as redes sociais mais comuns”, diz Cleo Garcia.

O mapeamento foi feito a partir de documentação eletrônica e impressa, áudios e vídeos, perfis nas redes sociais, entrevistas, reportagens, boletins de ocorrência, processos judiciais, produções acadêmicas e pessoas envolvidas indiretamente. 

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