Depois do massacre, favela da Baixada Fluminense vai receber unidade da PM
Matança expõe a diferença entre o Rio 'pacificado' e as áreas onde a lei ainda é do tráfico de drogas. Policiais e fuzileiros vasculham a mata em busca de traficantes na Chatuba
A favela da Chatuba, nos municípios de Mesquita e Nilópolis, vai receber uma unidade permanente da Polícia Militar. Com algumas diferenças, aplica-se no local algo próximo do que são as UPPs, com policiais instalados no centro de uma área para evitar que traficantes controlem o território. O anúncio seria festejado na região se não chegasse depois do assassinato brutal de seis jovens inocentes – ao todo houve 12 mortes naquela região nos últimos três dias. Desde as primeiras horas desta terça-feira, cerca de 250 homens da PM e fuzileiros navais ocupam a região, com auxílio de blindados. Uma nota da Secretaria de Segurança informa que a PM “começou a retomada daquele território, preparando terreno para a instalação de uma Companhia Destacada que lá permanecerá por tempo indeterminado”.
O massacre de seis jovens na Baixada Fluminense expõe com clareza a diferença que há entre o Rio ‘pacificado’ e as áreas onde a lei ainda é a do tráfico de drogas. Os seis não tinham antecedentes criminais e eram moradores de áreas pobres da cidade de Mesquita. No sábado, foram capturados e brutalmente assassinados, com corpos jogados à beira da Rodovia Presidente Dutra. A cena aproxima o Rio do México, com as matanças periódicas promovidas pelos cartéis de drogas da fronteira. E em nada tem a ver com as imagens de turistas nas favelas com UPPs.
A criação da “Companhia Destacada” é bem-vinda. Mas tardia. Diz a nota da Secretaria de Segurança: “Diante da quantidade significativa de crimes bárbaros cometidos no último fim de semana por traficantes que dominam a comunidade da Chatuba, nos municípios de Mesquita e Nilópolis, a Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro entendeu que era necessária uma ação urgente para devolver a tranquilidade àquela região.”
Agora que a secretaria “entendeu que era necessária” a ação, estão na favela policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque da Polícia Militar, com apoio de fuzileiros navais. Entre as 12 mortes registradas na região desde o fim de semana estão os seis jovens encontrados à beira da Rodovia Presidente Dutra, um cadete da PM e um pastor. Depois da ação, uma Companhia Destacada da Polícia Militar com 112 PMs será criada no local, para permanecer por tempo indeterminado.
Até o fim da manhã, nove pessoas tinham sido detidas, entre elas Ricardo Salas da Silva, 25 anos, e Mônica Silva Francisco, 20. Em nota, a PM afirmou que os dois estavam com 433 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. Um homem identificado como Beto Gorducho também foi preso. Ele estava em uma casa com 50 gramas de cocaína e 15 mil reais em espécie, escondidos dentro de uma mochila infantil. As embalagens das drogas eram ilustradas com fotografias do jogador holandês Seedorf e da cantora inglesa Amy Winehouse. Ainda não há notícias sobre a prisão de traficantes envolvidos nas mortes.
A Chatuba é um dos locais para onde fugiram traficantes do Complexo do Alemão e de outras favelas que receberam UPPs. A região de Costa Barros, na zona norte da capital, também passou a viver um aumento da criminalidade depois das ocupações de favelas na zona sul e nos complexos do Alemão e da Penha.
Na manhã desta terça-feira a PM encontrou vestígios de acampamentos de traficantes na mata próxima à região onde os seis jovens foram capturados. Também estão sendo procurados corpos na mata. Um deles seria de um jovem que saiu de casa na manhã de sábado e desapareceu. A mãe do jovem decidiu pedir informações a um traficante, que avisou: o rapaz estaria enterrado na mata.
As mortes chocaram os moradores de Mesquita. Os seis jovens encontrados mortos na manhã de segunda-feira estão sendo velados no Ginásio Municipal de Nilópolis, também na Baixada Fluminense, desde o início da manhã. Vizinhos, parentes e amigos lotam a quadra do ginásio e fazem orações e homenagens aos adolescentes.
Os jovens não tinham envolvimento com o tráfico. Clarissa Searles, de 15 anos, falou do comportamento tranquilo do primo Josias Searles, um dos adolescentes assassinados. Ela estudava na mesma sala que Josias e estava em aula quando recebeu a notícia. “Todo mundo entrou em desespero quando a professora contou o que tinha acontecido. Ele era um aluno dedicado aos estudos, mas também era muito brincalhão. Jogava bola e tinha muitos sonhos. Estamos todos muito tristes.”
A diretora da escola, Eliana Pereira de Oliveira, estava inconformada. “Ver o meu aluno e não reconhecê-lo é terrível. É uma barbárie inadmissível”, disse. O enterro dos seis jovens será realizado nesta terça-feira, às 14h, no cemitério de Olinda, também no município de Nilópolis.
(Com Agência Estado)