Eduardo Davis.
Brasília, 26 out (EFE).- O ministro do Esporte, Orlando Silva, renunciou nesta quarta-feira desgastado por denúncias de corrupção que o tornaram o quinto colaborador da presidente Dilma Rousseff que renuncia por essa mesma causa desde janeiro.
A gota que transbordou o copo de denúncias contra o ministro, responsável em parte pela organização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de iniciar uma investigação sobre supostas irregularidades na pasta.
‘A posição do Supremo foi determinante’, declarou a jornalistas o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em alusão a essa decisão do Supremo, que é extensiva à gestão do antecessor de Silva no cargo e atual governador de Brasília, Agnelo Queiroz.
Orlando Silva resistiu nos últimos dez dias a uma enxurrada de denúncias formuladas pelo ex-policial João Dias Ferreira, que lhe acusa de estar envolvido em diversas irregularidades no programa Segundo Tempo, que financia organizações não-governamentais dedicadas a promover o esporte entre crianças carentes.
Dias Ferreira não chegou a apresentar provas concretas e Silva compareceu três vezes ao Congresso para se explicar a uma oposição desafiante que exigia sua renúncia imediata.
Silva destacou a falta de provas, disse ser vítima de uma ‘nova Inquisição’ e pediu formalmente aos organismos jurídicos do Estado que investiguem sua vida, mas nada bastou para impedir sua saída.
‘O senhor deve entender que ninguém o quer no Governo’, chegou a afirmar ontem o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), explicitando o complicado clima político enfrentado pelo agora ex-ministro.
Segundo Dias Ferreira, acusado de fraudes no programa Segundo Tempo e que no ano passado chegou a ser preso, existe há anos no Ministério do Esporte um ‘esquema de comissões’ por meio do qual foram desviados R$ 40 milhões dos cofres públicos.
Afirmou inclusive que ele mesmo foi ‘vítima’ dessas manobras, como responsável de uma federação de artes marciais que recebia apoio do Segundo Tempo.
O desgaste causado por essas denúncias se uniu às tensas negociações pelas exigências da Fifa em relação ao Mundial de 2014, como a venda de cerveja em estádios, proibida por lei no Brasil.
Na sexta-feira passada, entre fortes rumores sobre uma ‘iminente’ renúncia de Silva, o secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke, chegou a anunciar que viajará ao Brasil em novembro para continuar essas negociações, mas com ‘outro interlocutor’.
No entanto, nesse mesmo dia, Dilma se reuniu com Orlando Silva e o ratificou no cargo sob a ‘presunção de inocência que deve beneficiar todo cidadão’.
No domingo passado, no entanto, Gilberto Carvalho esclareceu que essa decisão da presidente não era ‘definitiva’, já que ela devia estudar melhor a situação, pois durante toda semana passada, estava em uma viagem pela África.
O ministro do Esporte tinha assumido o cargo há cinco anos, durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e Dilma o manteve quando assumiu o poder, no dia 1º de janeiro.
Desde então, a presidente perdeu por suspeitas de corrupção os ministros da Casa Civil, Antonio Palocci; Transportes, Alfredo Nascimento; Agricultura, Wagner Rossi, e Turismo, Pedro Novais – além do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que renunciou por diferenças com o Governo. EFE