Datas: Roberto Cavalli, Lygia de Azeredo e Eleanor Coppola
As despedidas que marcaram a semana
Filho de uma família florentina ligada às artes, Roberto Cavalli logo intuiu que sua vocação não era com telas e pincéis, mas sim com agulhas e o desenho de roupas. Nos anos 1990, ele explodiu nas passarelas com o tom que o faria famoso: o excesso, em peças destinadas a vestir gente da alta sociedade com transparências e generosos decotes. Ter um “Cavalli” no armário era a senha para as intermináveis festas e os infindáveis iates. Todo pop star que se preze em algum momento esteve dentro de um modelo dele: Jennifer Lopez, Beyoncé, Christina Aguilera, Shakira e as Spice Girls — para quem ele desenhou uma coleção inteira para uma turnê, em 2007. “Molto sexy, molto animal print e molto, molto italiano”, na definição do jornal britânico The Independent. Cavalli morreu em 12 de abril, aos 83 anos, em Florença, de causas não reveladas.
Uma presença concreta
O apartamento de Augusto de Campos e Lygia de Azeredo no bairro de Perdizes, Zona Oeste de São Paulo, foi sempre um centro de intermináveis tertúlias culturais — mal comparando, era como o endereço da escritora Gertrude Stein na Paris dos anos 1920, ímã de atração de nomes como Picasso, Hemingway e F. Scott Fitzgerald. No lar paulistano, circulavam pensadores durante os anos 1960, 1970 e 1980. A pauta: a política, sem dúvida, no período do regime militar e depois, com a redemocratização, mas sobretudo os versos da poesia concreta. Embora de produção bissexta, Lygia foi fundamental no grupo Noigandres, criado em 1952 pelo marido, Augusto, Haroldo de Campos (1929-2003), Décio Pignatari (1927-2012), José Lino Grünewald (1931-2000) e Ronaldo Azeredo (1937-2006), seu irmão. Em 1979, ela escreveu o “poema-beijo para augusto”: “como foi / como é / como flor / como amor / como amiga / como vida”. Lygia morreu em 14 de abril, aos 92 anos, em São Paulo.
No centro do apocalipse
Nunca foi fácil orbitar em torno do diretor de cinema Francis Ford Coppola, o criador da inesquecível franquia O Poderoso Chefão, um dos nomes mais reputados da história do cinema dos séculos XX e XXI. Eleanor Coppola, mulher do cineasta, contudo, soube fazer dos obstáculos o atalho para construir carreira própria como documentarista. No final dos anos 1970, o marido decidiu filmar Apocalypse Now nas Filipinas. Foi uma rodagem infernal, com problemas climáticos e de saúde dos atores, além do humor irascível do genial Marlon Brando. Eleanor — “a única pessoa com tempo livre”, ela diria, irônica — tratou de registrar o cotidiano daquela aventura. O resultado: Francis Ford Coppola — O Apocalipse de um Cineasta, extraordinário retrato das dificuldades do cinema. Ela faria também o registro do making of de dois trabalhos dirigidos pela filha, Sofia: As Virgens Suicidas (1999) e Maria Antonieta (2006). Em 2016 ela estrearia na ficção com o elogiado e simpático Paris Pode Esperar. “Eleanor tem a capacidade de fazer com que as mulheres se identifiquem com ela”, disse a atriz Diane Lane, que fazia par com Alec Baldwin. Ela morreu em 12 de abril, aos 87 anos, de causas não reveladas pela família.
Publicado em VEJA de 19 de abril de 2024, edição nº 2889