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Conflitos despedaçam a imagem da Cidade Maravilhosa

Para especialista, sem violência, Rio de Janeiro receberia 40% mais turistas

Por Carolina Freitas
25 nov 2010, 19h23

“Reforça-se à imagem de uma cidade que, apesar de bonita, é um lugar onde é bom não estar”, João Trajano Sento-Sé, coordenador do laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Corpos carregados em colchões, policiais com o rosto pintado de preto, tanques blindados nas ruas e ônibus em chamas. As cenas e a narrativa de guerra mostradas para o Brasil e para o mundo despedaçam a imagem do Rio de Janeiro, cidade-sede das Olimpíadas de 2016 e de jogos da próximas Copa do Mundo de Futebol, em 2014. O discurso oficial relaciona os ataques a uma atitude de desespero de traficantes acuados pelas medidas de segurança pública do governo. Apesar das tintas otimistas, não se negam mais de 30 mortes, dezenas de feridos e uma população inteira com medo, tudo sob o olhar de milhares de telespectadores. “Os últimos episódios causam um impacto devastador à imagem do Rio”, afirma o cientista político João Trajano Sento-Sé, coordenador do laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Reforça-se a imagem, que vem sendo construída há anos, de uma cidade que, apesar de bonita, é um lugar onde é bom não estar.” A má fama tende a impactar mais o turismo doméstico. O Rio é o terceiro destino mais visitado por turistas brasileiros, depois de São Paulo e Brasília. Os conflitos acontecem no momento em que viajantes domésticos planejam onde passarão o Réveillon e já começam a pensar no carnaval – os dois maiores eventos da cidade. Ainda assim, por enquanto, não há cancelamento de reservas na cidade, afirma o diretor da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) Leonel Rossi. Segundo Rossi, o impacto de mais um caso de violência se dá no médio e longo prazo. “Aconteceu outras vezes. Já sabemos como funciona. Ninguém está cancelando a ida para o carnaval no Rio por isso, mas para a imagem da cidade é muito ruim. A longo prazo vai acabar havendo uma retração.” Rossi calcula que, não fosse o crime organizado, o Rio receberia até 40% mais turistas. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) no Rio de Janeiro, Alfredo Lopes, o impacto das notícias sobre violência para os turistas estrangeiros é mais diluído. “Estamos com 82% dos leitos vendidos para o Réveillon e 75% para o carnaval. Quem vem de fora não vai cancelar a viagem por causa destes episódios.” Mesmo assim, a segurança aparece entre as principais queixas dos turistas, segundo pesquisas recentes da associação, ao lado de reclamações sobre sinalização de trânsito e limpeza urbana. Dados do Ministério do Turismo sobre a demanda turística internacional no Brasil mostram insatisfação de 27% dos estrangeiros que visitaram o Rio com a segurança pública. Sem uma solução à vista, o jeito é tentar reverter as cenas de terror com propaganda positiva. “O turista sabe que crimes podem acontecer em qualquer lugar do mundo. A imagem do Rio é muito ligada a belas paisagens e a um povo hospitaleiro. Precisamos reforçar esse lado bonito do Rio e, com transparência, mostrar o que o governo está fazendo para reverter a situação da violência”, diz Rossi, da Abav. Ele cita como exemplo de recuperação de imagem os casos de Nova Iorque após os atentados de 11 de setembro de 2001 e de Madrid, depois do ataque terrorista ao metrô da cidade, em 2004.

Copa do Mundo – Os especialistas olham para o passado para prever o que deve acontecer com o Rio durante a Copa e as Olimpíadas. Na avaliação deles, o governo saberá manter a ordem, ao menos durante os eventos. Foi o que aconteceu durante os Jogos Panamericanos de 2007, sediados na cidade. “O governo mostrou que sabe aquietar a criminalidade por alguns dias. O problema é que o fôlego é curto e isso não resolve o problema”, afirma o cientista político João Trajano Senta-Sé, da Uerj. “De qualquer forma, o Rio não tem perfil para ser palco de episódios de atentados como aconteceu em Munique, em 1972 [quando terroristas palestinos invadiram a Vila Olímpica e mataram atletas da delegação israelense].” O setor hoteleiro torce para que, até lá, o governo fluminense tenha achado a fórmula para desencravar da Cidade Maravilhosa o signo da violência. “Não se pode brincar com eventos como Copa e Olimpíada”, diz Leonel Rossi, da Abav.


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