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Carta ao Leitor: De tijolinho em tijolinho

Lula parece mais interessado nos imensos problemas mundiais do que nas grandes questões locais. É tempo desperdiçado, sinônimo de oportunidades perdidas

Por Da Redação Atualizado em 3 nov 2023, 10h59 - Publicado em 3 nov 2023, 06h00

Um dos mais brilhantes estadistas do planeta, o britânico Winston Churchill (1874-1965) tinha a rara habilidade de tocar um país em condições adversas. Ele conduziu o Reino Unido durante a II Guerra Mundial, sem nunca deixar de proferir discursos certeiros sobre política, economia e o cotidiano dos cidadãos. Entre tantas frases memoráveis, uma poderia ser repetida todos os dias no Palácio do Planalto pelo presidente Lula e seus principais subordinados: “O esforço contínuo é a chave para desbloquear o seu potencial”. O conselho de Churchill, que exalta o trabalho e a persistência, cai sob medida para o momento atual do Brasil. Poucos países estão tão bem posicionados no mundo pós-pan­demia. Graças à boa atuação do Banco Central, a inflação está controlada, os empregos estão sendo criados e a economia pode crescer em torno de 3% apenas neste ano. Quando se olha para o futuro, há avenida de prosperidade em temas como transição energética e produção de alimentos. Podemos, ainda, nos beneficiar de movimentos como o nearshoring (o deslocamento de fábricas da Ásia para países mais próximos dos Estados Unidos).

Embora as condições sejam favoráveis, a questão central é que, depois de quase um ano no governo, muito foi dito e desdito, em infindável vaivém, e muito pouco foi rea­lizado. Sem dúvida, é fundamental ter habilidade no discurso, como Lula demonstra. A boa articulação política é crucial. E não há dúvida em torno da imagem do Brasil no exterior, agora mais positiva. Lula, insista-se, tem mais flexibilidade e jogo de cintura que Jair Bolsonaro, o que é ótimo. Isso não significa, porém, adiar, ad infinitum, decisões que precisam ser tomadas imediatamente. Em diversos setores, o país está à espera de definições — há incertezas em torno do próximo ministro do STF e dos nomes de um órgão fundamental para o capitalismo, como o Cade. Existe atraso também na alocação dos investimentos na área de energia e um jogo de empurra no tema da segurança pública. A demora em cada etapa do processo, muitas vezes sem uma justificativa pertinente, deixa o Brasil inteiro em compasso de espera. É tempo desperdiçado, sinônimo de prejuízos e oportunidades perdidas.

Lula parece mais interessado nos imensos problemas mundiais do que nas grandes questões locais. Neste ano, ele já viajou para 21 países e fará mais três deslocamentos internacionais até dezembro. Durante o mesmo período, o presidente esteve em dezesseis estados brasileiros. Sim, o planeta enfrenta muitas dificuldades e, vale repetir, precisávamos mesmo melhorar a reputação lá fora. Mas será que não haveria urgência na resolução dos rumos do país? Afinal de contas, o presidente foi eleito para tentar resolver os conflitos internacionais ou os brasileiros? Ainda que não abra mão do périplo internacional, Lula poderia conciliar os dois movimentos. As pesquisas com a queda na avaliação do presidente indicam que um pedaço da população já sente a inação do governo federal, e o alerta soou no Palácio. Não por acaso, Lula garantiu se dedicar mais ao Brasil no ano que vem. Tomara que não seja apenas para apoiar os candidatos do PT em eleições municipais. O país precisa de um presidente atuante, que se dedique a governar para todos — sem polarizações. Caso contrário, seremos sempre “o país do futuro”, como na definição do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), que por aqui viveu e morreu.

Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866

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