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Brasil recebe arquitetos adeptos das cidades sustentáveis

Em entrevista, cofundador da plataforma Arq.Futuro, Tomas Alvim conta como são os novos centros inclusivos e funcionais.

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 abr 2024, 16h02 - Publicado em 2 abr 2024, 13h24

Localizado no continente mais urbanizado – e desigual – do mundo, o Brasil segue a tradição dos países vizinhos ao replicar cidades que se expandem horizontalmente do centro para as bordas, conhecidas por serem regiões carentes de ofertas de serviço, trabalho e lazer. O brasileiro conhece muito bem essa realidade: quem ganha menos gasta mais tempo e dinheiro para se deslocar entre a casa e o trabalho. O reflexo é o trânsito caótico de um sistema viário entupido de filas de carros e transporte público lento e igualmente lotado. Em um mundo que discute a diminuição da emissão de carbono para tentar atender às exigências do Acordo de Paris, que tem o compromisso de manter o aquecimento global abaixo de dois graus, o Arq. Futuro reúne um time de feras da arquitetura e do urbanismo para dividir com o público novas experiências de cidades. Será dia 9, em Campinas, cidade do interior de São Paulo.

Com o título “Novas Centralidades: o futuro das cidades”, o seminário se inspira no modelo urbano proposto recentemente pela prefeitura de Paris, batizado de “A Cidade em 15 minutos”. A ideia é oferecer um município, onde seja possível morar, trabalhar, cuidar da saúde, fazer compras e se divertir em um raio de distância tão curto que para atravessá-lo leve cerca de 15 minutos – e não duas horas como em São Paulo. “Vamos falar de um bairro de uso misto, que não necessariamente precisa atender todas as funções sociais em 15 minutos, mas que aproxime a infraestrutura das cidades de todos os cidadãos”, diz Tomas Alvim, cofundador do Arq. Futuro, plataforma de discussões formada, em 2011, justamente para apresentar novas propostas de cidades e consequentemente novos estilos de vida.

Entre os palestrantes estrelados do evento estão Joshua Prince-Ramus, diretor fundador do REX, premiado escritório de Nova York,  e um dos autores do Parelman Performing Arts Center (PAC), marco na transformação cultural da região do Lower Manhattan. Trata-se de um dos responsáveis pela revitalização do terreno das antigas Torres Gêmeas, no complexo do World Trade Center (WTC), destruídas no atentado de 2001. Desde então, o local passou por uma série de mudanças, que incluem a construção de quatro edifícios e do Oculus (arrojada estação do WTC).

Joshua projetou o cubo luminoso da fachada do PAC, que é uma estrutura monolítica em mármore português translúcido. Inaugurado no ano passado, o prédio foi desenhado para abrigar atividades culturais e de entretenimento como shows e peças de teatro. Outro convidado de destaque é o arquiteto colombiano Alejandro Echeverri, especializado em projetos de baixo impacto ambiental, que mora em Medellín, referência em urbanismo social no mundo.

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Para ter um spoiler desse encontro de urbanistas, VEJA conversou com Tomas Alvim, o anfitrião do evento. Abaixo ele explica como chegar a uma cidade menos estressante e mais segura. Mas garante que não se trata de projeto utópico modernista, mas de realidade tangível, desde que exista compromisso de políticas sociais continuadas, investimentos privados e participação da sociedade. Em outras palavras: a transformação das cidades depende de um projeto político apartidário, onde o foco seja a cidade e não transformações estanques voltadas apenas aos resultados das urnas eleitorais.

Como vai ser a cidade em 15 minutos?
Essa ideia nasceu em Paris. Na verdade, ela não precisa ser necessariamente em 15 minutos, pode levar um pouco mais de tempo, desde que de fato aproxime a cidade do cidadão. Isso significa produzir novas centralidades. É pegar áreas já consolidadas e misturar os usos, proporcionando em um mesmo bairro entretenimento, trabalho, áreas verdes, lazer e comércio. É criar áreas onde as pessoas não precisem se deslocar muito para ter acesso a uma boa qualidade de vida. O Arq. Futuro propõe uma discussão oportuna. Estamos em um momento em que a redução da emissão de carbono é mandatória. No Brasil, o assunto é prioritário. Enquanto estivermos produzindo moradia e trabalho distantes um do outro, o deslocamento é inevitável, o que significa mais emissão de carbono. Essa equação não fecha. A discussão sobre o modelo de cidade que queremos para o futuro próximo é mais do que necessária.

Como atingir esse desafio em áreas consolidadas como as grandes capitais?
O programa proposto pela prefeitura do Rio de Janeiro, Reviver Centro, é um bom exemplo de como fazer isso. Trata-se de um plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região central da capital fluminense. O maior objetivo é atrair novos moradores, a partir da transformação de construções já existentes ou de terrenos que estejam vazios. Para que isso aconteça, a prefeitura oferece incentivos fundamentais nessa recuperação (no caso do Rio, isenção de outorga, uma contrapartida paga pelos investidores nos primeiros cinco anos de Operação Interligada, e isenção total de impostos de Transmissão de Bens e Imóveis na região).

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A revitalização dos centros deteriorados seria o primeiro passo para a mudança? É isso?
O centro de uma cidade é simbólico. Ele guarda o início, a história da região, que precisa ser preservada. Além disso, tem grande infraestrutura construída, que pode ser melhor-aproveitada. O centro de capitais, como São Paulo ou Rio de Janeiro, tem muita vida durante o dia, mas fica vazia à noite, o que traz insegurança. A moradia dá vida, traz o uso misto. O sucesso de Nova York é exatamente você poder encontrar um sapateiro na 5ª Avenida, por exemplo, entre tantos outros serviços essenciais.

Sonho de consumo dos brasileiros, o condomínio residencial murado está condenado?
Sim. Não deu certo. O brasileiro achou que estaria seguro em um local fechado, com moradores com o mesmo perfil. Mas ele tem de sair de lá para trabalhar e continua sujeito aos riscos da cidade. Daí ele blinda o carro para se proteger. Os condomínios residenciais murados se multiplicam e a cidade não ficou mais segura por causa disso. Quando se discute a nova centralidade, você traz o aprendizado da história recente do que não deve ser repetido. Fracassamos recorrentemente. É importante aprender com os fracassos.

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Por que a escolha de Campinas para sediar o encontro dos arquitetos esse ano?
Campinas ainda tem uma área não urbanizada grande. É uma cidade com padrão de desenvolvimento importante, que tem universidade de peso, centro tecnológico, emprego, áreas verdes e boa infraestrutura. E deve abrigar um projeto urbanístico para uma área de 1 milhão de metros quadrados, pertencente a uma fundação, que envolve a inciativa privada, o grupo Iguatemi. O projeto incluiu a oferta de serviços públicos e privados, além de eficiência energética, entre outros quesitos fundamentais. O Brasil tem 5.600 municípios, muitos ainda com grande potencial de crescimento, que podem seguir o padrão das novas centralidades, da “Cidade em 15 minutos”. Trazemos uma discussão que não é sonho, mas uma realidade bem possível desde que haja o comprometimento dos governantes na continuidade de políticas públicas e sociais. Entre elas, incentivos que atraiam a inciativa privada e desperte o desejo de participação da sociedade. O cidadão precisa fiscalizar e exigir das prefeituras uma cidade mais sustentável, com mais qualidade de vida, e que produza moradias, que sejam ativos valorizados.

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