Os bombeiros que trabalham há mais de 24 horas no combate ao fogo que consome dezenas de contêineres do terminal da empresa LocalFrio, em Guarujá, litoral paulista, deram início nesta sexta-feira ao uso da técnica de ‘afogamento’ para evitar que o fogo consuma completamente mais equipamentos de carga – liberando, assim, mais fumaça tóxica. Trata-se da submersão dos contêineres em tanques com água. Dos nove equipamentos nos quais as chamas foram controladas até agora, quatro se deram por esse método. Ao todo, 25 contêineres pegaram fogo.
A principal hipótese para explicar a formação da nuvem tóxica que se espalhou sobre as cidades de Guarujá, Santos, São Vicente e Cubatão é uma falha em um dos contêineres. O equipamento teria uma rachadura que permitiu que a água da chuva entrasse em contato com a substância química armazenada, o dicloroisocianurato de sódio, provocando reações em cadeia, com a liberação de gases tóxicos, explosões e fogo. As chamas teriam, então, se espalhado para os outros equipamentos de transporte de carga, gerando o incêndio de grandes proporções.
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O método de submersão, contudo, é eficiente no combate ao fogo porque a quantidade de água presente no tanque é muito superior à do produto, como explica o tenente do Corpo de Bombeiro Rafael Marques: “Em contato com uma pequena quantidade de água, o ácido reage, criando mais vapor, mais calor e propagando o incêndio. Submergindo o ácido em um grande quantidade de água, no entanto, a gente o torna inativo”.
Antes de adotar esse método, porém, os bombeiros precisam analisar se essa é a melhor forma de combater as chamas. “Dependendo do material químico, a gente utiliza um determinado tipo de agente extintor, como espuma e pó químico – ou então a submersão”, disse Marques. “Nós alisamos a quantidade de produto que está reagindo com a água. Se for grande a quantidade, a gente submerge. Caso contrário, nós aplicamos o agente extintor.”
Meio ambiente – O gerente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Enedir Rodrigues afirmou nesta sexta-feira ao site de VEJA que não foi encontrada nenhuma anormalidade no Estuário (ambiente de transição entre mar e rio) de Santos, localizado na área portuária. “Fizemos uma vistoria no Estuário e não constatamos mortalidade de peixes”.
A Cetesb também está fazendo coletas do sistema de drenagem da água. Ainda nesta sexta, deve chegar a Guarujá uma estação telemétrica móvel, vinda de São Paulo, para monitorar o ar da região. “Que a fumaça é tóxica nós já sabemos [por causa dos produtos químicos presentes nos contêineres], mas, a princípio, ela não causa nada mais sério”, disse. Sessenta e seis pessoas procuraram uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região com sintomas de náusea, mal-estar, irritação na garganta e olhos lagrimejando.
Embora de toxidade baixa, a nuvem densa ainda cobre parte de quatro cidades (Guarujá, Santos, São Vicente e Cubatão). Por isso, a principal recomendação dos bombeiros é evitar contato com a fumaça e, caso não seja possível, usar um pano seco ou uma máscara para minimizar a inalação dos gases tóxicos.
Questionado se a Cetesb vai tomar alguma medida judicial contra a LocalFrio, Rodrigues disse que, no momento, a preocupação é em concluir a parte técnica. “Depois que finalizarmos a ocorrência, vamos tomar todas as ações contra a empresa”, informou.