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Bióloga se muda para a Fiocruz para não prejudicar fabricação de testes

Com o risco de ser contaminada pelo coronavírus no transporte, a chefe de equipe da linha de produção dos kits optou por dormir na instituição

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 21 abr 2020, 11h11 - Publicado em 21 abr 2020, 10h54

Em meio ao esforço para se ter a real dimensão do número de infectados pela Covid-19 no Brasil, um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) trabalha em longas jornadas, sem fins de semana ou feriados, com o objetivo de decuplicar a produção semanal de testes, de 20.000 para 200.000 unidades. Para um destes profissionais, a bióloga Claudia Bastos Barroso, de 50 anos, especialista em virologia e mestre em vigilância sanitária, o empenho vai mais além: há um mês e meio ela está morando – literalmente – no complexo de estudo e pesquisa, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio. A medida foi adotada para que Cláudia, à frente da equipe que atua no maior centro fabricante de kits do país e que abastece todos os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), não corra o risco de ser contaminada pelo coronavírus no trajeto de casa para o trabalho e prejudique a produção.

Há 32 anos na Fiocruz, a bióloga se orgulha de estar no front da batalha para aumentar a testagem do novo vírus entre os brasileiros. “Eu encaro isso como uma missão. Até existe uma pessoa treinada para me substituir, mas é importante eu não desfalcar o grupo”, ressalta Claudia, que é solteira e mora com os pais em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a uma hora e meia de ônibus do trabalho. A pesquisadora, filha e neta de ex-funcionários da instituição e que entrou ali ainda estagiária, conta que esta é a segunda guerra que enfrenta. “Quando entrei aqui fui trabalhar na produção de testes para HIV, numa época em que não se sabia quase nada sobre a doença. Se alguém se contaminasse com o vírus no laboratório, o que graças a Deus não aconteceu, era sentença de morte”, lembra.

Desde que a unidade de Bio-Banguinhos, dentro do complexo da Fiocruz, começou a produzir os testes PCR – aquele que confirma se o paciente tem ou não o vírus por meio da análise de secreção das cavidades nasais e da garganta –, no início de março, a bióloga se mudou de mala e cuia para o local. Ela ocupa um dos quartos do alojamento destinado a estudantes e pesquisadores de outros estados e países que fazem intercâmbio na Fundação. Ela divide com outra pesquisadora um quarto parecido com o de um hotel simples, sem TV ou qualquer outro luxo, onde costuma ouvir música e entrar nas redes sociais à noite para relaxar.

A maior parte do tempo Claudia passa mesmo no quinto andar de um prédio moderno, cujas instalações lembram um filme de ficção científica. A produção de testes para diagnóstico do coronavírus da Fundação está instalada em um labirinto de salas com luz fria e piso emborrachado, entremeado de longos corredores. Para entrar ali é preciso colocar um macacão especial, luvas, toucas e máscaras. Todas as salas têm temperatura e pressão controladas e algumas chegam a ter até quatro portas de proteção. Tudo para garantir que nada contamine os kits de testes. Como chefe de produção, a bióloga chefia 32 profissionais, mas a expectativa é que nos próximos dias esse número quase dobre. Tudo para manter a linha de produção de testes da Fiocruz a pleno vapor. “Me orgulho de poder estar contribuindo num momento tão importante como agora. Vou ficar morando aqui até quando for necessário”, diz a bióloga.

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A Fundação, a primeira a fabricar os kits PCR para detecção do novo vírus no país, negocia ainda a importação de componentes de testes rápidos para montar em seus laboratórios. Experiências bem-sucedidas de países que conseguiram achatar a curva epidemiológica, desacelerar a expansão da epidemia e registrar uma baixa mortalidade, mostram que testar massivamente a população é imprescindível. Mesmo diante de todo o esforço de profissionais como Claudia e sua equipe e das recentes importações de kits por várias empresas, o Brasil figura em 14º lugar entre as quinze nações com o maior número de casos confirmados – na casa dos 40.0000 –, aparecendo em último no quesito em testes aplicados.

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