Avião alemão sequestrado na década de 70 vai deixar o Brasil
Boeing 737-200 foi comprada por brasileiro em 2002 e está estacionado em 'cemitério de aeronaves' há oito anos

Em 13 de outubro de 1977, o Boeing 737-200 estava a caminho de Frankfurt, saindo de Palma de Maiorca, na Espanha, quando quatro sequestradores fizeram os 86 passageiros a bordo seus reféns.
Quarenta anos depois, o avião que passou seus últimos dias no Brasil voltará a Alemanha como objeto de memória de um dos eventos mais marcantes da história daquele país.
O avião está parado há oito anos no chamado “cemitério” do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, no Ceará. O retorno será possível graças a um acordo da Justiça Federal do Ceará (JFCE).
Pelo acordo, o atual proprietário doará a aeronave ao governo alemão. Por sua vez, a Alemanha pagará 75.936 reais à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A quantia é relativa a taxas e despesas da permanência da sucata na área do aeroporto.
Segundo a Justiça Federal, o acordo foi firmado no mês de maio e o avião deve ser removido em até seis meses.
Existem cerca de outras cinco sucatas de aeronaves no local, segundo a assessoria do Aeroporto Internacional Pinto Martins.
Com cerca de 40 metros de comprimento, 34 metros de envergadura e 12 metros de altura, o deslocamento do avião de volta à Alemanha não é uma tarefa simples.
“As asas serão desmontadas, e estão estudando se ele será embarcado em um navio ou em um avião maior”, explica o piloto Ariston Pessoa Filho, 39, que doou o avião ao governo alemão.
A aeronave ficou famosa por protagonizar o sequestro do voo 181, da empresa aérea Lufthansa, durante o chamado “Outono Alemão”, período marcado por atos de terrorismo de extrema esquerda.
Os sequestradores pediam a liberação de integrantes da Fração do Exército Vermelho (RAF) e da Frente Popular para a Libertação da Palestina, que foram detidos pelo governo.
O Boeing teve diferentes proprietários até que foi comprado em 2002 pelo comandante João Ariston Pessoa de Araújo, proprietário da extinta TAF Linhas Aéreas, de Fortaleza. Na época, o avião custou cerca de 3 milhões de dólares.
Morto em 2011, o comandante deve ser homenageado pelo seu pioneirismo na aviação do Ceará. O comandante se formou piloto em 1955 e, em 1958, passou a ser instrutor com seu próprio avião. A homenagem foi o único pedido do seu filho como contrapartida à doação.
No Brasil, o auge do Boeing foi no seu primeiro ano de operação fazendo transporte de passageiros do Nordeste para o Norte.
Segundo Ariston Filho, o avião chegou a fazer sessenta voos de Fortaleza para Parintins, no Amazonas, para o Festival Folclórico de Parintins, realizado anualmente no fim do mês de junho.
Nos últimos anos de uso, o avião fazia apenas transporte de carga, até ser“aposentado” em 2009 por suas características obsoletas.