Autoescolas usavam digitais de silicone para fraudar presença de alunos
Foram apreendidos 5.000 moldes de dedos usados para registro no sistema biométrico do Detran; serviço custava até 2 000 reais
Duas autoescolas da cidade de São Paulo usavam digitais de silicone para fraudar a presença de candidatos e obter a carteira de habilitação em aulas e provas. O serviço saía por 2 000 reais. Ao todo, a polícia apreendeu cerca de 5.000 digitais de silicone. O esquema de fraude foi descoberto em uma ação que envolveu a Corregedoria do no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP) e a Polícia Civil. Não foi comprovada a participação de funcionários do Detran-SP no esquema.
Duas pessoas – pai e filho – foram presas por policiais do 17º Distrito Policial, no Ipiranga. Elas são donas das autoescolas, cujos nomes não foram divulgados pelos policiais. Uma fica no Ipiranga, na Zona Sul, e pertence ao pai, enquanto a outra, na Vila Alpina, Zona Leste, é de propriedade do filho. Segundo o delegado Levi D’Oliveira, do 17º DP, a fraude foi descoberta a partir de uma denúncia à Corregedoria do Detran-SP.
O golpe consistia em copiar as impressões digitais dos candidatos. Para isso, segundo a polícia, as duas autoescolas pediam para os alunos colocarem os dedos em moldes de gesso, que eram recobertos com silicone. Quando o material secava, as impressões ficavam gravadas nas falsas digitais. Com o material feito pelas autoescolas, funcionários eram orientados a marcar a presença dos candidatos nas aulas teóricas – e até na prova para tirar a habilitação. “Temos anotações que mostram que eles cobravam até 2 000 reais para fazer o serviço”, disse o delegado D’Oliveira.
Leia também:
Detran-SP aplicou uma multa grave por minuto em 2012
Sem recursos, Detran demora 2 anos para cassar CNH
Operação desmonta quadrilha que fraudava vistoria de veículos no Detran do Rio
Segundo o delegado, pai e filho devem responder por inserção de dados falsos, crime contra a administração pública, cuja pena varia entre dois e doze anos de prisão. O advogado dos dois presos estava na delegacia na tarde de segunda-feira, mas preferiu não dar entrevista.
Outra etapa da investigação será identificar os candidatos a motorista que contrataram o serviço. Tarefa fácil, segundo o delegado. “Nas digitais, há nome e CPF de cada condutor”, afirma. Essas pessoas vão responder por corrupção e por falsidade ideológica.
O esquema descoberto na segunda-feira é mais uma fraude que ocorre no Detran após a mudança na gestão do órgão – que deixou de responder à Polícia Civil e foi transformado em autarquia, justamente para tentar pôr fim a fraudes que, por anos, foram associadas à imagem do departamento.
Apesar da mudança e da promessa de retirada de novecentos policiais que trabalham no órgão – eles serão substituídos por servidores concursados -, os casos de corrupção continuam ocorrendo. No fim do mês passado, foi descoberto um esquema no Guarujá, litoral sul, que envolvia cancelamento de multas.
(Com Estadão Conteúdo)