Depois da divulgação de um relatório da Polícia Federal apontando ligações entre a chefe de gabinete do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o contraventor Carlinhos Cachoeira, Eliane Golçalves Pinheiro pediu exoneração do cargo nesta terça-feira. A solicitação foi atendida por Perillo.
Na carta, Eliane confirma que mantém “vínculos de amizade” que considera “exclusivamente pessoais com pessoas indiciadas” na Operação Monte Carlo, mas argumenta que não é a mesma Eliane que aparece nas gravações da PF. “Fui também vítima de um grande equívoco pela coincidência do meu nome com o de uma outra Eliane, que desconheço”, escreve. “Mas a imprensa foi implacável e de todas as maneiras tentou me envolver”.
Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal Folha de S.Paulo, Eliane Pinheiro recebeu informações sigilosas de operações policiais, que foram repassadas aos envolvidos, prejudicando o trabalho da PF. Os dados, passados a Eliane por Cachoeira, diziam respeito a alvos da Operação Apate, que investigou no ano passado supostas fraudes tributárias em prefeituras do interior de Goiás.
De acordo com a reportagem, o relatório da PF revela que Cachoeira e Eliane trocaram dezenas de mensagens e telefonemas. A chefe de gabinete teria, por exemplo, informado sobre as denúncias o prefeito de Águas Lindas de Goiás, Geraldo Messias (PP), aliado de Perillo.
Nesta terça-feira, o senador Demóstenes Torres pediu a desfiliação do DEM por também estar envolvido em relações suspeitas com Carlinhos Cachoeira. Assim como o parlamentar, Eliane usava um rádio Nextel com linha habilitada nos Estados Unidos para se comunicar com o chefe da máfia dos caça-níqueis em Goiás.
Leia a íntegra da carta de exonaração de Eliane Pinheiro:
Sr. Governador,
Como é do conhecimento de V. Excia, meu nome tem sido citado, nos últimos dias, a propósito de gravações telefônicas da Operação Monte Carlo e de vínculos de amizade que considero exclusivamente pessoais com pessoas indiciadas na referida Operação.
Nada tenho a temer. Injustamente, fui também vítima de um grande equívoco pela coincidência do meu nome com o de uma outra Eliane, que desconheço, e que protagoniza conversas telefônicas grampeadas na investigação. Mas a imprensa foi implacável e de todas as maneiras tentou me envolver, destacando as suas suspeitas em letras garrafais, no alto das páginas, e só corrigindo, após os meus esclarecimentos, em letras miúdas, em um canto qualquer das edições.
Em qualquer país civilizado, somente os tribunais aplicam penas e, mesmo assim, após um processo de apuração de culpas e mediante o exercício do direito de defesa. Esse, não me é dado, diante das regras estabelecidas pela histeria coletiva em que se transformam as denúncias em nosso país, nos dias de hoje.
Por tudo isso, não posso colaborar em transformar o governo do Estado, a que servi com dedicada abnegação, em alvo de especulações da mídia. Peço a minha exoneração do cargo de Chefe do Gabinete da Governadoria – agradecendo desde já a honra e o privilégio ímpar de ter trabalhado ao seu lado e tudo ter feito para o sucesso da sua administração, em benefício do povo goiano.
Goiânia, 3 de abril de 2012
Eliane Gonçalves Pinheiro