Cerca de três horas horas antes de ser assassinada, a vereadora Marielle Franco (PSOL) fez uma transmissão ao vivo de um evento em que ressaltou o crescimento de crimes contra mulheres negras. Logo no início do vídeo, postado em sua página no Facebook, ela afirmou: “Não é à toa que os índices de homicídio, de feminicídio e estupro contra o nosso corpo, infelizmente, aumentam.”
De acordo com a legenda que acompanha a gravação, as imagens são da Roda de Conversa Mulheres Negras Movendo Estruturas, realizada, na noite de ontem, na Casa das Pretas, na Lapa. A vereadora foi morta, quando, após a reunião, ia para casa, na Tijuca.
Ao abrir a conversa, Marielle ressaltou que, no encontro, ela e as outras mulheres abordariam temas como dores e resistência: “Nosso corpo que fala, nossa cor que fala, nossa raça que fala, nosso gênero que fala”, frisou. O vídeo tem 1h38 (abaixo).
O assassinato de Marielle Franco
A vereadora foi assassinada a tiros na noite desta quarta-feira, no Rio de Janeiro. O motorista do carro em que Marielle estava também foi baleado e morto. A assessora Fernanda Chaves também estava no veículo e sobreviveu. O crime aconteceu na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, região central da cidade.
Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas últimas eleições para a Câmara Municipal, com 46.502 votos. Na noite desta quarta, antes do homicídio, ela participou de um evento com jovens negras na Lapa.
Em nota, o PSOL cobrou “apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo” e destacou a atuação política de Marielle. “Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta.”
Ativa nas redes sociais, a vereadora costumava postar mensagens de apoio ao movimento negro e aos direitos da mulheres e críticas ao governo de Michel Temer, à intervenção federal no estado e à atuação da polícia. No último domingo, Marielle protestou contra uma operação da Polícia Militar na Favela de Acari. “Chega de matarem nossos jovens! Chega de esculacharem a população! #VidasNasFavelasImportam”, escreveu. Em outro tuíte, ela ligou a PM à morte do jovem Matheus Melo, baleado na terça na favela do Jacarezinho ao sair da igreja, em caso ainda sem solução.
A trajetória de Marielle Franco
Formada em sociologia pela PUC-Rio, ela tinha mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Marielle também coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado do deputado estadual Marcelo Freixo, também do PSOL.
O prefeito Marcelo Crivella publicou a seguinte nota sobre a morte: “É com profundo pesar que lamentamos o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco, cuja honradez, bravura e espírito público representavam, com grandeza inigualável, as virtudes da mulher carioca. Sua trajetória exemplar de superação continuará a brilhar como uma estrela de esperança para todos que, inconformados, lutam por um Rio culto, poderoso, rico, mas, sobretudo, justo e humano. Em cada lar uma prece, em cada olhar uma lágrima e em cada coração um voto de tristeza, dor e saudade. É assim que hoje anoitece a cidade desolada e amargurada pela perda de sua filha inesquecível e inigualável. Que Deus a tenha!”