(Atualizado às 20h15)
Depois de afirmar que partidos políticos financiam a ação de integrantes do Black Bloc nos protestos de rua no Rio de Janeiro, o advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende os dois acusados de matar o cinegrafista Santiago Andrade, disse que jovens recebem pagamentos regulares para promover atos de vandalismo e ataques à polícia. Em sua afirmação, Nunes diz que isso “não atenua” a situação dos acusados. Ele também assegura que entre os participantes das ações violentas há “pessoas muito pobres”, que passaram a receber 150 reais por manifestação e que são levadas em ônibus alugados para essa finalidade, numa espécie de “bolsa-protesto”. Nunes também afirmou que Caio Silva e Souza recebia um salário mínimo para atuar em protestos e, assim, ajudava a mãe, muito pobre, a pagar o aluguel da casa em Nilópolis, na Baixada Fluminense. A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro informou nesta quarta-feira que analisa se vai abrir processo para investigar a denúncia.
O advogado havia afirmado, em entrevista à rádio Jovem Pan, que jovens como Souza recebem “mesada” para participar de protestos. Disse que são jovens revoltados, com uma “certa ideologia” e que são “aliciados para participar de manifestação”. Sem citar os partidos ou organizações que fomentam os protestos, o advogado sugeriu investigar “vereadores e deputados”. E alegou estar em “sigilo profissional” para não dar nomes e apontar instituições.
Leia também:
Polícia investiga quem banca o Black Bloc
Leia trechos da entrevista de Jonast Tadeu Nunes à ‘Jovem Pan
De acordo com o jornal O Globo, Nunes também afirmou esta manhã que há um “esquema de pirâmide” para fazer os pagamentos – sem dar mais detalhes. Assegurou que “ativistas” operam os pagamentos e que os jovens cooptados sequer sabem a força dos explosivos.
É claro que qualquer verniz de ingenuidade sobre Caio Silva e Souza e Rafael Raposo Barbosa atende aos objetivos da defesa. O advogado, apesar de dizer que os fatos por ele revelados não alteram a situação dos acusados, também tenta convencer que Souza “não sabia que aquilo era um morteiro” e pensava estar diante de uma “cabeça de nego”. Esta última afirmação não é razoável. As bombas são bem diferentes e não é preciso ser especialista em armas ou fogos para distingui-las.
“Esse menino foi convocado, aliciado para participar de manifestações. Esses jovens são remunerados para isso. Não estou eximindo ele de responsabilidade, mas esses jovens são municiados”, afirmou o advogado.
Leia também:
Reinaldo Azevedo: Advogado afirma que partidos financial terror em protestos
Como o Black Bloc matou as manifestações
A Polícia Civil não relaciona as declarações de Nunes com o assassinato do cinegrafista. No entanto, o chefe da instituição, Fernando Veloso, disse que “diversos inquéritos” investigam o financiamento e o aliciamento de manifestantes. A promotora Cláudia Condack, que vai ser responsável pela denúncia de Caio Souza e Fabio Raposo à Justiça, explicou que, mesmo sem ter recebido ainda o inquérito, é provável que o caso seja encerrado, sem necessidade de mais investigações, quanto à identificação dos responsáveis pelo lançamento do rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes. De acordo com a promotora, o mais provável é que Souza e Raposo respondam por homicídio qualificado e crime de explosão – com pena total que pode chegar a 35 anos de prisão.
(Com Estadão Conteúdo)