“O Lula está com a agenda repleta de compromissos. O testemunho que ele deu em meu favor para as lideranças regionais do PT foi suficiente”, diz o prefeito
Publicidade
Instalado em uma poltrona na sala de reuniões de um escritório de advocacia na Avenida Paulista, na última segunda-feira, o prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT), não mostrava nenhum traço da desenvoltura e do jeito bonachão que ostentou até recentemente na carreira política. Para conceder a entrevista ao site de VEJA, Dr. Hélio, como é conhecido, fez uma exigência: não poderia haver perguntas sobre sua mulher, a ex-chefe de gabinete da prefeitura Rosely Nassim Santos. A cada indagação, o político buscava os olhos de seus advogados e consultava uma folha de papel com instruções.
Dr. Hélio é chefe de uma administração atingida em seu âmago por uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco), que identificou um esquema de cobrança de propinas e fraudes em torno da Sanasa, a companhia municipal de águas e saneamento. O prefeito não é formalmente investigado pelo MP. “Citaram meu nome? Nenhuma vez”, diz ele. Mas sua mulher, Rosely, foi denunciada não apenas como participante, mas como líder do esquema, ao lado do vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT). Dr. Hélio não quer mencionar a suspeita contra a mulher com quem divide o teto há quase 40 anos. E acha que isso é o bastante para dizer que não tem nada a ver com o caso.
Na semana passada, o prefeito escapou de um afastamento temporário – pedido feito pela oposição e engavetado graças à base de apoio do governo. Mas ainda corre o risco de ver o pedido de impeachment aprovado pela Câmara dos Vereadores. A comissão que analisa a conduta do chefe do Executivo de Campinas deve chegar a uma conclusão em dois meses. “Querem antecipar a eleição de 2012 com uma tentativa de golpe”, diz Dr. Hélio. “Sou vítima de uma tentativa de linchamento político.” Para tentar se defender, o prefeito parte para o ataque. “Existem gravações mostrando políticos do PSDB agindo junto à Sabesp de acordo com o método apontado em Campinas”, acusa.
Para ele, a investigação que trata do escândalo na Sanasa tem “dois pesos e duas medidas”. Revigorado com a manutenção do cargo, Dr. Hélio obteve o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro José Dirceu, amigos poderosos que assistiam a tudo de longe. O apoio de José Dirceu, denunciado como capo do maior esquema de corrupção do governo Lula, o mensalão, deixou Dr. Hélio especialmente emocionado. “Ele foi um ícone da minha juventude. Passou e ainda passa pelo mesmo suplício que eu.” A seguir, trechos da entrevista concedida pelo prefeito ao site de VEJA:
O senhor tem dois meses para se preparar para enfrentar o relatório final da comissão que pode pedir seu impeachment. Como está a sua defesa? Se for só a questão de mérito, já respondi. Se eu tivesse algum envolvimento direto com o que aconteceu na Sanasa, o Gaeco já teria se manifestado.
O senhor alega sofrer uma tentativa de linchamento político. Este processo tem dois pesos e duas medidas. Existem gravações mostrando políticos do PSDB agindo junto à Sabesp de acordo com o método apontado em Campinas.
Os deputados do seu partido, o PDT, não o defenderam publicamente logo de início. Qual a razão? Realmente, mas o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, me telefonou enquanto estava em Gênova. Ele se colocou à disposição, assim como colegas de legenda, como o Miro Teixeira e o Paulinho da Força.
Para que chamar o ministro Orlando Silva, do Esporte, em sua defesa? Ele não é do seu partido. É assim tão ligado ao senhor? O Orlando Silva é casado com uma campineira e está sempre na cidade.
Antes da votação na Câmara que poderia determinar seu afastamento temporário, nem todos os vereadores do PDT haviam fechado a seu favor. Isso não mostra que falta apoio ao senhor? O Legislativo é muito próprio. Quem está lá observa mais a pressão popular. Mas fiz um trabalho de convencimento dentro do PDT, provando que a tentativa feria preceitos constitucionais flagrantes. No fim, todos ficaram ao meu lado.
O senhor esperava mais apoio do ex-presidente Lula, que é seu amigo? Ele está com a agenda repleta de compromissos. O testemunho que ele deu em meu favor para as lideranças regionais do PT foi suficiente. E teve o apoio do Zé Dirceu também. Eles estão solidários comigo e com meu vice.
Ter o apoio de José Dirceu, que teve o mandato cassado como deputado e foi denunciado como chefe do mensalão, é algo positivo? Zé Dirceu passou, e ainda passa, pelo mesmo suplício que eu. Não me envergonho de dizer que o Zé Dirceu foi um ícone da minha juventude. Em 2004, fui para o segundo turno com metade dos votos do primeiro colocado. Mesmo assim, o Zé, que era ministro da Casa Civil, veio ajudar na minha campanha. Agora ele foi solidário mais uma vez.