‘Memórias da Dor’: a espera interminável na Paris da II Guerra
Disponível no Now, adaptação do diretor Emmanuel Finkiel recria a natureza fantasmagórica do romance de Marguerite Duras
(La Douleur, França/Bélgica/Suíça, 2017. Disponível no NOW) Na Paris ocupada pelos nazistas, a escritora Marguerite Duras — de O Amante e Hiroshima, Meu Amor — atravessou uma espécie de não vida, enfiada no apartamento à espera de que seu marido, o também escritor Robert Antelme, batesse à porta ou palmilhando a cidade em busca de alguma notícia sobre qual destino a Gestapo teria dado a ele. Quatro décadas depois, Duras misturou seus diários do período à imaginação — ou, melhor dizendo, à imprecisão da lembrança — no romance semiautobiográfico Memórias da Dor. Apoiada em uma atuação soberba de Mélanie Thierry, esta adaptação severa do diretor Emmanuel Finkiel recria a natureza fantasmagórica da experiência da protagonista e a sensação de estar andando sem sair do lugar. É um filme árduo e tão despido de qualquer sentimentalismo que chega a chocar — mas é também uma das melhores evocações do cansaço e dos sentimentos ambíguos engendrados por uma separação sem data para terminar ou nem sequer para ser explicada.