“Todas as Cores do Céu”: as mazelas da Índia pelo olhar de uma mulher
A estreante Amir Trasi expõe as tragédias da pobreza e do sistema de castas que vigora em seu país natal num romance tocante
Em seu romance de estreia, a escritora indiana Amita Trasi pinta um quadro devastador sobre o sistema de castas indiano, expondo mazelas como a prostituição infantil, o tráfico de mulheres e a desigualdade que assola o país. Em um vilarejo no interior da Índia, em 1986, uma garota de 10 anos pertencente a uma casta inferior é submetida a um ritual milenar que selará seu destino. Mukta é considerada uma devadasi, serva da deusa hindu Yellamma – e, assim como aconteceu com todas as mulheres de sua família antes dela, sua função na hierarquia social será servir aos desejos sexuais dos homens de sua comunidade, como uma espécie de “prostituta sagrada”. Para salvá-la do futuro tenebroso que a aguarda, a criança é resgatada por um homem de casta superior e levada a Bombaim (atual Mumbai), onde passa a viver com a família dele, desempenhando funções domésticas. É ali que ela conhece Tara – filha do anfitrião -, com quem desenvolve um vínculo de irmandade. A onda de ataques terroristas que abalam a Índia em 1993, no entanto, abre uma ferida que estremece a amizade. O sequestro de Mukta, no mesmo ano, separa de vez as garotas. Já adulta, e depois de uma temporada vivendo nos Estados Unidos, Tara descobre que a amiga – que seu pai dissera estar morta – segue desaparecida e talvez esteja viva. Ela, então, retorna à Índia determinada a encontrar o paradeiro de Mukta, em uma viagem carregada de lembranças dolorosas.