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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O Brasil é o novo extremo Oriente

Num mundo polarizado entre EUA e China, o centro do globo é o Pacífico

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 ago 2020, 11h41 - Publicado em 6 ago 2020, 16h00

Brasileiros aprendemos geografia com mapas nos quais o país está à esquerda do meridiano de Greenwich e com uma Europa desproporcionalmente grande em relação aos demais continentes. São cartografias descendentes da Projeção de Mercator, desenhada por Geradus Mercator em 1569, quando a Europa podia reivindicar ser o umbigo do mundo. Além das distorções ao Norte ao Sul (basta ver o tamanho da Groenlândia em relação à África), os mapas eurocêntricos não fazem mais sentido político, nem econômico. Se nós brasileiros quisermos entender o mundo de hoje e dos próximos anos, o centro do mundo deve ser o Oceano Pacífico, entre a Costa Leste dos EUA e da China.

Nesta nova configuração, o Brasil é o extremo oriente de um mundo no qual EUA e China movimentam o planeta. Como explicou o cientista político Ian Brenner em live na semana passada para a DAPP/FGV, é um sistema distinto da guerra fria do século 20. “Os EUA e a URSS não dependiam um do outro, ao contrário de EUA e China que tem economia interdependentes”, comparou. Nesse mundo polarizado, o Brasil está na extrema periferia.

Por isso, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial dos EUA de novembro, seus efeitos no Brasil serão de curto prazo. A reeleição de Donald Trump irá avalizar a política externa de Jair Bolsonaro e deixa-lo em paz para chacoalhar a democracia e minimizar o combate à Covid-19. A vitória de Joe Biden vai colocar Bolsonaro na parede para proteger a Amazônia sob risco real de sanções comerciais.

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Mas no longo prazo, a diferença entre republicanos e democratas é nebulosa. Qualquer que seja o presidente americano a sua prioridade zero para a América Latina será reduzir a influência chinesa, especialmente no Brasil. A propalada licitação para a adoção da tecnologia 5G é só a parte mais visível de um jogo bruto global.

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Com Bolsonaro, o Brasil passou a ser um mico amestrado da política externa americana. Em entrevista recente à CNN Brasil, o ministro Paulo Guedes já indicou ser contra à uma vitória da chinesa Huawei na licitação do 5G alegando “afinidades culturais” com o Ocidente. Na semana passada, o deputado Eduardo Bolsonaro defendeu a exclusão no Brasil do aplicativo TikTok e o seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, por várias vezes ameaçou limitar a compra de fazendas de soja por empresas chinesas.

Esse partidarismo do governo Bolsonaro só não é maior porque, ironicamente, nunca o Brasil dependeu tanto da China quando neste ano. Com as sanções comerciais entre EUA e China, as vendas de produtos brasileiros para a Ásia aumentaram cinco pontos percentuais em um ano. Nos primeiros seis meses deste ano, um terço dos US$ 101,7 bilhões exportados pelo País foi para a China. Em compensação, as vendas para os EUA caíram para menos de 10%, o índice relativo mais baixo da história.

Como analisou para o colunista de Veja Matheus Leitão o embaixador Roberto Abdenur, a postura desequilibrada de Bolsonaro pró-EUA terá consequências. “Eu acho que a China não ficará imóvel se nós continuarmos a dar sinais negativos em direção a ela e, mais concretamente, se rejeitarmos a Huawei [na disputa do 5G]. A China valoriza o Brasil, a China depende do Brasil para sua segurança alimentar. Não haverá nenhuma ruptura, mas haverá uma perda de força. A China pode optar por outros fornecedores de alguns dos produtos da nossa exportação para lá, como carnes, soja, açúcar, celulose, etc. Haverá outros países em condições de supri-la, se não totalmente, pelo menos em parte. Seguramente haverá uma retranca chinesa em relação a investimentos no Brasil”, disse Abdenur, que foi embaixador brasileiro em Washington e em Pequim. Exportadoras como a Vale (minério de ferro), Bunge e Cargill (soja), Suzano (Papel & Celulose) e as indústrias JBS, BRF e Marfrig (proteína animal) podem ser prejudicadas pela política míope de Bolsonaro.

Num cenário de polarizaram crescente, o melhor para o Brasil seria manter um equilíbrio na política externa, defendendo os interesses comerciais das companhias nacionais, e uma mudança drástica nos mapas escolares. Já passou da hora de o Brasil entender que ele faz parte do extremo oriente do novo mundo.

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