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A desvalorização do professor Delfim de 1973 a 2010

O aconselhamento de Delfim Netto pode ter se desvalorizado 82,96% em 37 anos

Por Sérgio Praça 12 mar 2018, 15h45

“Se Cristóvão Colombo tivesse feito um estudo prévio de viabilidade, jamais teria descoberto a América”, disse, segundo o construtor Lafayette Prado, o economista Delfim Netto. Pode ser que o espirituoso professor não a tenha dito. De qualquer maneira, ela expressa bem seu pensamento sobre grandes obras de infraestrutura a serem feitas por empreiteiras. Delfim é tranquilo e favorável. Por isso não é de estranhar sua participação na definição do consorcio de empresas que ganhou a licitação para construir a hidrelétrica de Belo Monte. Delfim não é um economista dos banqueiros, mas sim da “burguesia industrial paulista”, como bem define o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos  em seu excelente livro “Estranhas Catedrais: As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964-1988” (Ed. da UFF, 2013).

Quando se tratou de escolher as empresas para realizar a obra de Belo Monte, o governo interveio no pior sentido possível, de acordo com investigação do Ministério Público Federal na qual o juiz Sergio Moro baseou sua decisão. Agentes como Antonio Palocci (PT), ex-ministro da Fazenda, obtiveram informações sobre o preço que o Consórcio Belo Monte Energia (formado quase majoritariamente pelo governo federal) estava propondo para realizar a obra Delfim Netto foi um dos incumbidos, junto com o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, para comunicar o preço às empresas concorrentes que, assim, cobrariam menos e levariam a obra. Foi o que aconteceu. Delfim teria recebido R$ 15 milhões ilegais pelo meio-de-campo. Como se trata de obra complexa, o consórcio vencedor subcontratou grandes empreiteiras para fazer o trabalho. sendo subcontratadas, as empreiteiras lucrariam muito menos. Isso teria sido uma “lição”  de Dilma Rousseff (PT) para empresas como Odebrecht.

A atuação do professor Delfim Netto a favor das empreiteiras tem longa história e não cabe em um só texto. Dois exemplos se destacam. Com a implementação do Ato Institucional n. 5 (AI-5) a partir de 13 de dezembro de 1968, Delfim aproveitou o fechamento da ditadura para dar benefícios tremendos às empreiteiras longe do escrutínio dos parlamentares do MDB (receptor, junto com o PT, de 0,5% do valor de Belo Monte em propina – equivalente a R$ 160 milhões). Cinco meses depois do AI-5, Delfim e Costa e Silva editaram o Decreto nº 64.345 . Nas palavras de Pedro Henrique Pedreira Campos, o decreto instituiu a reserva de mercado para todas as obras públicas realizadas no país. ao contrario do que havia ocorrido no governo de Castello Branco, as empreiteiras não mais sofreriam concorrência estrangeira. As implicações são óbvias: mais corrupção, valores mais altos, serviços piores.

Em 1973, o professor estava prestes a e tornar embaixador brasileiro na França. Seria uma recompensa pelos serviços prestados à ditadura e consequência do novo-desenvolvimentismo do novo ditador, Ernesto Geisel. De acordo com Elio Gaspari, o general João Baptista de Figueiredo disse a Golbery, o número-dois de Geisel, que Delfim Netto havia avisado a um grupo francês que a firma construtora da usina da Água Vermelha, em Minas Gerais, seria a Camargo Corrêa. A intermediação teria custado 6% do valor da obra de comissão para Delfim, em torno de US$ 6 milhões, equivalente a US$ 27 milhões hoje.

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De acordo com os investigadores da Polícia Federal e Ministério Público Federal, Delfim aos 81 anos em 2010 vale 0,1% do valor da obra, ou cerca de R$ 15 milhões. Isso dá em torno de US$ 4,6 milhões. A intermediação do professor desvalorizou em 82,96% após 37 anos.

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