O que faz Guedes no governo Bolsonaro?
Como um jogador em maré de azar, Guedes não consegue se levantar da mesa
A gestão de Paulo Guedes na Economia é, indiscutivelmente, um fracasso. Guedes não privatizou nada, não vai privatizar nada, a reforma da Previdência já estava encaminhada quando chegou, é quase impossível que consiga fazer reforma administrativa ou tributária (se, por um milagre, as fizer, não serão significativas), nem sequer menciona abertura comercial. Demorou a reagir à Covid e errou, e continua errando, na resposta. Foi desautorizado, atropelado e humilhado por Bolsonaro vezes sem conta.
Agora, Bolsonaro provocou um terremoto no mercado ao demitir o presidente da Petrobras e anunciar que vai “meter o dedo” no setor elétrico. Comenta-se ainda que deve demitir o presidente do Banco do Brasil e alguns dos auxiliares de Guedes no Ministério da Economia. Até em desmembrar o Ministério da Economia se fala. Enquanto o presidente da República o submete à maior humilhação de sua vida, Guedes está em silêncio, escondido em algum buraco.
O que Guedes está esperando para pedir o boné?
Há quem diga que Guedes deve ficar no governo não mais “atacante”, mas como “goleiro”. Isto é, vai “defender” a área econômica de eventuais barbaridades que Bolsonaro possa ainda cometer. Que tipo de pessoa acredita em uma sandice dessas? Guedes não consegue impedir que Bolsonaro nomeie para a Petrobras um general com a missão de segurar o preço do combustível (e fazer coisas ainda piores), vai “defender” o quê?
Banqueiro de sucesso, Guedes, nunca foi convidado a formular políticas públicas, e passou a vida a criticar os economistas que as formulavam. Acreditou que Bolsonaro — o presidente mais antiliberal desde a ditadura — lhe daria a chance de realizar uma agenda liberal e de provar aos pares, ao mundo e a si mesmo o quão genial é.
Errou feio e fracassou miseravelmente, mas, como o jogador de pôquer na maré de azar, não consegue admitir para si mesmo que perdeu, não consegue se levantar da mesa. Em vez de pôr um limite a suas perdas (o que o mercado financeiro chama de stop loss, mas que Guedes, curiosamente, parece desconhecer), e realizar o prejuízo, o ministro segue dobrando a aposta. Até o amargo fim.
Guedes não permanecerá no governo para “defender” o que quer que seja. Permanecerá para fugir do espelho e para fornecer a certas pessoas (na Faria Lima ou fora dela) o pretexto para apoiar Bolsonaro dizendo-se liberais — quando a palavra que as define é “reacionárias”.
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