“Mas o que foi que as ruas nos deram?”, pergunta este cão. Ou: Renan, um amigo do povo. Ou: Sócrates com Monty Python
Ah, o doce espírito das ruas, não é mesmo, leitores deste blog? Como vocês são teimosos! Tanta gente dizendo que sou um sujeito perigoso, e vocês não se convencem! No artigo da Folha, chamei as ruas de “ente divinizado por covardes”. Parece que foi uma ofensa gravíssima… Um rapaz entendeu que eu estava a dizer […]
Ah, o doce espírito das ruas, não é mesmo, leitores deste blog? Como vocês são teimosos! Tanta gente dizendo que sou um sujeito perigoso, e vocês não se convencem! No artigo da Folha, chamei as ruas de “ente divinizado por covardes”. Parece que foi uma ofensa gravíssima… Um rapaz entendeu que eu estava a dizer que só covardes protestam. Escrever tem sempre uma boa margem de insegurança. São muitos os que leem o que não está escrito — quando não entendem o exato oposto do que se disse. Como diria Vieira, a falha pode ser do pregador, eu sei… Adiante!
Leio no Globo Online o que segue em vermelho. Volto em seguida:
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou nesta terça-feira que deverá ser apreciado o projeto do Passe Livre, que prevê uso gratuito do transporte público a estudantes regularmente matriculados em instituições de ensino. O texto está desde junho com o relator, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que afirma estar buscando as fontes de financiamento para a medida. O projeto foi apresentado no auge da primeira leva de manifestações por todo o Brasil com a reivindicação de tarifa zero no transporte público.
“É inevitável que se discuta a partir de agora o passe livre para transporte escolar. Essa é uma crise anunciada, já voltou às ruas. Em janeiro e fevereiro, nós vamos ter a volta do reajuste da tarifa. Nós temos no Brasil hoje 3,6 milhões de alunos que pagam meia passagem. É evidente que, com o passe livre, você pode dar um corte social, mas o governo pode ter que pagar R$ 7 bilhões. De onde virá esse dinheiro?”, afirmou Renan, respondendo imediatamente à questão: “O dinheiro virá do Orçamento. Eu acho que essas manifestações mudaram realmente o Brasil.”
Voltei
Volto com um diálogo, entre Sócrates e Monty Python.
— Mas o que foi que as ruas nos deram?
— O risco do fim de qualquer voto secreto no Congresso.
— Mas isso é bom?
— Não, isso não é bom, mas não foi a única coisa que as ruas nos deram.
— Então o que mais nos deram as ruas?
— Renan Calheiros vai pôr para votar no Senado o passe livre para todos os estudantes do Brasil.
— Mas isso é bom? Isso é uma forma justa de redistribuir impostos? Os mais pobres saem ganhando?
— Não, admito que não! Mas as ruas nos deram muitas outras coisas.
— Ok. O que mais nos deram as ruas?
— O Programa Mais Médicos…
— Mas isso já estava nos planos do governo, e o objetivo era ajudar Cuba, não cuidar da saúde dos brasileiros.
— Mas as ruas queriam uma saúde melhor!
— Sem investimento em infraestrutura e com leitos hospitalares em declínio? Não há nada melhor do que isso?
— A luta contra a Polícia!
— Heeeinnn?
— É, as ruas nos ensinaram a enfrentar a Polícia!
— Mas por que isso é bom?
— Exercício de cidadania?
— Mas nós queremos uma polícia que aja dentro da lei ou que apanhe de manifestantes?
— Que apanhe de manifestantes!
— Ah, bom, as ruas nos deram isso!
— Nunca mais seremos humilhados ao violar as leis!
— E quando alguém precisar da Polícia, faz o quê?
— Ora, ou chama o bandido ou chama os atores globais que fizeram aquele vídeo…