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Por Paulo Cezar Caju
O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Meus improváveis 71 anos: lúcido, saudável e ainda com fome de bola

Faço aniversário no mesmo dia que o Maracanã, o local onde fui mais feliz, como torcedor e jogador

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 jun 2020, 14h20 - Publicado em 15 jun 2020, 14h18

O improvável aconteceu. Amanhã, terça-feira, 16 de junho de 2020, chego aos 71 anos de idade, lúcido, saudável e com uma vontade incontrolável de calçar minhas chuteiras e retornar aos gramados. De preferência ao Maracanã, que também aniversaria amanhã. Mas digo no velho Maraca, no contagiante, arrepiante e eletrizante Maraca, o dos bandeirões, das charangas e da Geral transbordando de torcedores fantasiados. Minha estreia como torcedor não poderia ter sido melhor, final do estadual de 62, Botafogo 3 a 0 no Flamengo, que jogava pelo empate. Fogão bicampeão, com show de Garrincha. Meu pai adotivo, Marinho, era o treinador do Botafogo e eu estava no Setor 4, com meu irmão Fred.

Como poderia imaginar que cinco anos depois, em 67, aos 17 anos, eu estaria no mesmo estádio marcando três gols contra o América e ajudando o Botafogo a conquistar mais um título, na minha estreia como profissional, no Maracanã. Com o dinheiro de meu primeiro contrato consegui tirar minha mãe, Sebastiana Lima, de um barraco onde nasci e ela ainda morava. Não conheci meu pai, nem por foto. Na verdade, não tenho qualquer registro fotográfico de minha infância. Sei que meu pai era mestre de obras e morreu de cirrose hepática. Minha mãe era doméstica e consegui convencê-la que aceitasse minha adoção pela família de Fred, meu amigo de futebol de salão, no Flamengo. Devo muito a minha mãe, ao Fred e aos meus pais adotivos, Milta Rodrigues dos Santos e Marinho Rodrigues, o Meiúca. Eles me ensinaram a ter disciplina e a valorizar a estrutura familiar.

E assim cresci e fui vitorioso em minha carreira. Cada vitória, o Leblon explodia em festa! Foi no Maracanã que conquistei o Torneio de Verão, pelo Flamengo, contra o Santos, de Pelé, e o Benfica, de Eusébio e Coluna. E foi em uma festa, no Maracanã, que fui recebido pela torcida tricolor em meu retorno ao Brasil: Flu 1 x 0 Bayern. E também foi no Maraca, que participei de um dos momentos mais lindos de sua história, a vitória de 4 x 1 sobre a Argentina. Era uma seleção brasileira formada apenas por jogadores cariocas, praticamente todos do Botafogo e Félix, do Fluminense, Brito e Nado, do Vasco. A torcida delirou com o olé nos minutos finais e Nelson Rodrigues escreveu que o Botafogo era a pátria em calções e chuteiras. E por que iniciei o texto dizendo que chegar aos 71 anos era improvável? Porque minha vida foi muito intensa e não segurei a onda ao me imaginar longe dos estádios e da bola.

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Desde menino fazia minhas próprias bolas de meia. Enrolava papel de jornal e colocava dentro das meias-calça que minha mãe jogava fora, após usá-las para esticar o cabelo de minha irmã. Depois de ficar bem consistente, dava um nó na ponta e, pronto, a bola estava feita. Era uma relação de amor de anos e a forma encontrada para amenizar essa nova fase da vida foi o álcool e a cocaína, dobradinha mortífera. Após um mês cheirando sem parar, achei que aquele fosse meu último dia. Liguei para uma amiga, Maria da Penha, que chegou rápido e me levou para um hospital, na Barra. Fiquei três dias internado e me perguntei por que estava querendo arruinar toda uma história de conquistas e glórias. E a tal estrutura familiar ensinada pelos saudosos Marinho, Esmeralda e Milta? Hoje são quase 20 anos limpo, pulmão de aço, doido para colocar novamente os argentinos na roda, dar um balãozinho, uma caneta, um drible de pescoço, provocar a galera da Geral, me sentir vivo, cada vez mais vivo.

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