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Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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O caminho da independência (por Marcos Magalhães)

Até o passaporte brasileiro deixou de lado as estrelas do Mercosul

Por Marcos Magalhães
Atualizado em 18 nov 2020, 19h59 - Publicado em 9 set 2020, 12h00

O verde e o amarelo sempre dominaram as festividades da data nacional brasileira. Agora, as duas cores ganharam companhia. Além das bandeiras brasileiras, os mais exaltados seguidores do presidente Jair Bolsonaro levam às ruas, no 7 de setembro, bandeiras de Israel e dos Estados Unidos. Um bom momento para se pensar no que significa a palavra independência.

Desde que tomou posse, Bolsonaro cercou seu governo de símbolos ligados ao patriotismo. A publicidade oficial vem acompanhada do slogan “Pátria Amada Brasil”. O programa que substituirá o Bolsa Família ainda não foi bem definido, mas se chamará “Renda Brasil”.

Até o passaporte brasileiro deixou de lado as estrelas do Mercosul para adotar mais uma vez o brasão da República, com o objetivo de “fortalecer a identidade nacional e o amor à Pátria”, segundo balanço oficial dos 100 primeiros dias de governo.

Faz lembrar dos tempos do regime militar, em que os carros circulavam nas ruas com adesivos onde a bandeira brasileira era acompanhada da frase “Brasil: ame-o ou deixe-o”. A diferença é que o fervor patriótico do bolsonarismo vem acompanhado de admiração aparentemente incondicional por Israel e, principalmente, pelos Estados Unidos.

É verdade que os primeiros presidentes do regime militar, onde Bolsonaro parece buscar inspiração, se aproximaram bastante de Washington. Mas é curioso lembrar que alguns dos momentos mais difíceis das relações bilaterais ocorreram durante o mandato do presidente Ernesto Geisel, que ousou celebrar um acordo de cooperação nuclear com a Alemanha.

Energia

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Naqueles anos 70, a pesquisa nuclear estava no topo das conquistas tecnológicas. A crise do petróleo havia deixado clara a necessidade de se diversificar a produção de energia. E o governo brasileiro, que já havia adquirido da norte-americana Westinghouse sua primeira usina, Angra 1, celebrou acordo com o alemão para erguer mais oito usinas, com transferência de tecnologia.

A pressão americana foi grande. Até hoje o governo busca financiamento para a conclusão de Angra 3. Depois do fracasso do acordo com os alemães, a Marinha brasileira começou a desenvolver sua própria tecnologia nuclear. A tecnologia, que pode ser usada para mover submarinos e para produzir eletricidade, já existe. Mas ainda não move usinas.

A energia nuclear ainda divide opiniões no mundo inteiro. Mesmo que não contribua para o efeito estufa, como recordam seus defensores, ela produz rejeitos de difícil armazenamento. É difícil dizer que lugar terá no futuro. A opção pelo desenvolvimento da tecnologia, porém, pode ser considerada um passo em direção à autonomia do país.

Mais recentemente, os governos ligados ao PT viram no petróleo do pré-sal um passaporte para uma espécie de segunda independência do Brasil. O patriotismo, dessa vez, se confundia com o entusiasmo pela produção em larga escala do líquido negro que veio a se tornar um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global.

O petróleo do pré-sal financiaria os investimentos sociais capazes de levar o país a um novo nível de desenvolvimento. O país, de fato, alcançou alta tecnologia para a produção de petróleo em grandes profundidades. A mudança nas regras, o adiamento de leilões e o novo cenário mundial de produção de energia, porém, adiaram as promessas.

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Digital

A economia se transformou nos últimos anos. A crescente preocupação com a mudança climática reduziu o entusiasmo pelo petróleo e levou a uma grande valorização das fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica. E a pandemia tornou ainda mais claro o papel cada vez mais importante reservado à indústria digital.

As grandes redes mundiais de comunicações permitiram enorme crescimento de negócios feitos por meio eletrônico, quando o comércio de rua teve de permanecer fechado. As indústrias se preparam para a implantação da Internet das Coisas, baseada em ampla conexão de objetos eletrônicos. Nesse mundo novo, a quinta geração de telefonia celular terá um papel decisivo.

Os ativistas brasileiros que levam às ruas bandeiras dos Estados Unidos talvez não saibam. Mas o governo americano mais uma vez ameaça a independência brasileira, ao informar – como disse o embaixador Todd Chapman – que o Brasil sofrerá “consequências” se permitir que a chinesa Huawei participe da montagem da nova rede 5G.

E aqui se pode, mais uma vez, questionar o significado da palavra independência. O próprio presidente Jair Bolsonaro tem dito que ele mesmo decidirá se os chineses participam ou não da implantação das novas redes nacionais. Ele permitirá uma livre concorrência entre fornecedores internacionais ou seguirá as recomendações de Washington?

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O Brasil não está entre os principais atores da revolução digital em andamento, mas se movimenta em um campo de grande tensão política. A implantação das redes de quinta geração é apenas um dos capítulos de uma guerra tecnológica entre as duas maiores potências econômicas do planeta.

Independência

A China, crescentemente hostilizada pelo governo americano e por seus seguidores brasileiros, tem indicado nos últimos meses como buscará fortalecer a sua própria independência. O mercado de semicondutores, essenciais na disputa em andamento, é um dos principais cenários dessa guerra tecnológica.

Washington tem pressionado fornecedores de chips em todo o mundo para que não vendam mais seus produtos a empresas como a Huawei. Como as opções vão se esgotando, a única opção que parece restar aos chineses é a de projetar e produzir seus próprios chips.

Segundo o jornal chinês Global Times, o estímulo à produção de semicondutores de terceira geração constará do 14º Plano Quinquenal de Desenvolvimento, que definirá os rumos econômicos do país no período de 2021 a 2025.

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Segundo fontes ligadas à indústria citadas pelo jornal, o apoio de Beijing ao desenvolvimento de tecnologia própria nessa área servirá como um aviso aos produtores internacionais: se eles deixarem de fornecer a empresas chinesas, poderão ficar de fora do mercado daquele país.

Inovação

O Brasil, que não está entre os produtores mundiais de chips, vai acompanhar a distância a disputa que está apenas começando. O país pode, porém, inspirar-se na iniciativa chinesa para dar – por meio da pesquisa e da inovação – novos passos em direção a maior autonomia.

Um bom exemplo, para voltar ao tema da energia, está em reportagem publicada no Dia da Independência pelo jornal O Estado de S. Paulo. Segundo a matéria, o Brasil tem vocação para a produção do chamado hidrogênio verde, que poderá tornar-se uma das grandes fontes limpas de energia no século 21.

Atualmente se produz o hidrogênio “cinza” por meio da utilização do gás natural. O hidrogênio verde será produzido por meio do uso de energias limpas, como a eólica, abundante no Nordeste brasileiro.

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O novo combustível poderia mover indústrias, ônibus e trens em todo o mundo. Os países da União Europeia, região que pretende tornar-se neutra em carbono até 2050, poderiam estar entre os maiores compradores do produto brasileiro.

Essa possibilidade talvez ainda passe longe das preocupações do atual governo brasileiro, que demonstra pouco interesse pela questão ambiental e pouco entusiasmo pela ciência. Basta observar o novo cenário global, porém, para perceber que terão mais independência os países que mais investirem em seu desenvolvimento científico e tecnológico.

 

 

Marcos Magalhães escreve no Capita Político. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018. ⠀

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