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O calibre do perigo  (por Hubert Alquéres)

Democracia em perigo

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 30 jul 2020, 18h59 - Publicado em 22 abr 2020, 10h00

A reação das instituições aos constantes ataques à democracia brasileira mudou de patamar. Dois fatos são indicadores desta situação.

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, aceitou o pedido do Procurador Geral da República, Augusto Aras, um aliado do presidente, de instalação de inquérito para investigar os atos pró-ditadura realizados em frente a quartéis. Um deles com a presença de Jair Bolsonaro, ao lado dos portões de entrada do Quartel General do Exército em Brasília onde se situa o Gabinete do Comandante do Exército.

As Forças Armadas, por sua vez, se distanciaram do discurso contra a democracia. Após consulta aos comandantes das três armas, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, divulgou nota oficial, reafirmando sua obediência à Constituição, como tem se pautado desde a redemocratização do país.

Não se pode subestimar esses dois fatos. Eles rompem com o ciclo de se contrapor à escalada autoritária apenas por meio de declarações.

O Procurador Geral da República teve de se movimentar. Mesmo que sejam procedentes as suspeitas, de que teria blindado previamente Bolsonaro ao excluí-lo do escopo do inquérito e apenas investigar a autoria dos atos, seu pedido visou atender à pressão da sociedade civil para que a democracia acione seus mecanismos de defesa.

À primeira vista, o presidente não teria com o que se preocupar por não ser objeto da investigação. Mas não é bem assim. O que Ulysses Guimarães dizia das CPIs vale para outros tipos de investigações: é possível saber como começam, mas não como terminam. Ao investigar a autoria e quem financiou os atos, o inquérito pode chegar a parlamentares ligados ao governo e ao chamado gabinete do ódio.

E se as investigações chegarem ao seu núcleo familiar?

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Há um precedente de um presidente que não era alvo de investigação mas foi letalmente atingido por uma delas. Getúlio Vargas não era objeto do IPM instalado para investigar o atentado a Carlos Lacerda, mas quando as investigações chegaram ao seu irmão Benjamin Vargas, seu governo chegou ao fim de forma dramática.

O atual inquérito tem potencial para agravar a instabilidade de um governo que não conta com base parlamentar sólida e vive em guerra declarada com Congresso Nacional e o Supremo.

Nos tempos da ditadura, costumava-se interpretar os pronunciamentos dos militares por suas entrelinhas. Desde a redemocratização as Forças Armadas se mantiveram em silêncio sobre questões não afetas às suas atividades profissionais. Se voltaram a marcar posição é porque vivemos tempos anormais, agravados pela grave pandemia que se abate sobre a saúde pública.

Como no passado, é preciso entender o contexto da nota oficial desautorizando as manifestações.

Na noite de domingo o núcleo militar do governo, do qual participa o próprio ministro da Defesa, ainda não havia visto nada de anormal na participação do presidente em um ato no qual se pregava o AI-5, o fechamento do Congresso e do STF. Apenas acharam que Bolsonaro se empolgou. O chamado núcleo militar não tinha captado a enorme insatisfação da cadeia de comando das três armas com os atos, bem como de militares de alta patente que não fazem parte do governo.

A pregação em frente aos quartéis foi mais um passo na politização da tropa, porta pela qual a quebra da disciplina e da hierarquia sempre adentrou.

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Os militares sentiram o calibre do perigo de serem arrastados para uma aventura por causa do canto fúnebre que o marechal Castelo Branco chamou de vivandeiras e que desde 1930 rondam os quartéis. Nas entrelinhas mandaram seu recado: “As Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo”.

Esse é o lado positivo. As Forças Armadas parecem não estar dispostas a abrir mão do ativo conquistado a duras penas: o respeito e a admiração dos brasileiros por se aterem às suas funções definidas pela Constituição. Se o presidente extrapolar e apelar para estado de sítio, receberá o mesmo não que os militares deram a Dilma quando a então presidente pretendeu abortar seu impeachment com a decretação de estado de defesa.

O lado ruim é que temos um presidente que assume o papel de vivandeira e vai para frente de quartel para fazer questionável discurso político, um ato que pode ser qualificado como crime de responsabilidade.

 

Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação. Escreve às 4as feiras no Blog do Noblat. 

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