O afeto em tempos de pandemia (por Gustavo Krause)
O Senhor Presidente da República pespegou o pejorativo mimimi à gerações inteiras
No último século, a história deixou marcas muito significativas nas gerações. Em 2022, completará cem anos a Semana de Arte Moderna, ponto de partida de brilhante geração de vanguarda no campo da literatura e das artes plásticas.
Para carimbar uma geração, não é necessário que ocorram mudanças tão profundas nem uma rígida contagem cronológica. Porém, elas se distinguem e assumem uma personalidade que produzem efeitos: geração do pós-guerra, “baby-boom”, os nascidos entre 1946 e 1964 e, a partir de então, movimentos culturais, a rebeldia juvenil foram traçando uma história que subscreve o grito libertário “é proibido proibir”, o contraculturalismo hippie em confronto com o estabilishment; o ritmo do Rock inspirava liberdade sexual e tragadas de maconha, hoje, inocentada pelo canabidiol.
A esta série infindável de peculiaridades, o Brasil agregou a geração bossa nova, o tropicalismo e refinada linguagem que driblava a ignorância da censura. A Música Popular brasileira era protesto embutido na metáfora do afeto.
Os estudiosos das ciências sociais agrupam, em letras, as três recentes gerações e suas peculiaridades: meados de 60 a meados dos anos 80, a geração X; na sequência, geração Y de meados de 85 à atual geração Z, os “nativos digitais” que nasceram sob o World Wide Web criada por Tim Bernes-Lee.
A partir deste agrupamento, são pesquisados as características de cada coorte: perfil psicológico, comportamentos pessoais, profissionais, aspirações, enfim, elementos que caracterizem desde a personalidade a uma visão de mundo.
Em decorrência das profundas mudanças no processo civilizatório e novos comportamentos, atribuiu-se, pejorativamente, a expressão “geração mimimi”, composta de fracotes, inadaptados, com exagerado senso crítico, sem a contrapartida do fazer.
O Senhor Presidente da República pespegou o pejorativo mimimi à gerações inteiras, devidamente acompanhada de “frescura” e um “até quando vão ficar chorando”. O repertório presidencial contunde, zomba, fere a todos que vivem sob o risco de mortes e o sofrimento das perdas.
O lugar da palavra tem um força colossal. “Mais do que mil palavras sem sentido, vale uma única palavra que traga consolo a quem a ouve” (Dahmmapad, livro clássico budista). Mais ainda se dita do alto do poder. Nem consolo. Nem exemplo. Nem Afeto o que dá cor e brilho à convivência humana com a soma dos sentimentos de fraternidade, solidariedade, estima, compaixão.
Um registro: senti na pele (vacina) e no coração (perdas) o heroísmo e a bondade dos profissionais de saúde. Dedicação integral e destemida na luta de vida ou morte.
Gustavo Krause foi ministro e governador