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Democracia com adjetivo é tudo, menos democracia

À brasileira, só peru

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h17 - Publicado em 27 nov 2019, 07h00

Um dia depois de ter invocado o Ato Institucional nº 5 como possível meio para barrar por aqui manifestações de rua como as que ameaçam os governos do Chile (de direita) e da Colômbia (de centro), o ministro Paulo Guedes, da Economia, tentou pela segunda vez reparar os estragos que produziu com o que disse.

Para que não parecesse que engatou por completo uma marcha ré, insistiu em classificar as manifestações de rua como “uma bagunça, uma convulsão social” capaz de afastar os investidores estrangeiros de olho no mercado nacional. E pregou a instalação no Brasil de uma democracia que chamou de “responsável”.

– Eu acho que devemos praticar uma democracia responsável. Sabe como jogar o jogo da democracia? Espere a próxima eleição. Não precisa quebrar a cidade. Acho que isso assusta os investidores, acho que não ajuda nem a oposição, é estúpido – declarou em Washington, onde se reuniu com empresários americanos.

Adjetivar a democracia é meio caminho andado para propor sua extinção. É também um truque antigo e conhecido usado por governantes autoritários para chamar de democracia o que muitas vezes não passa de uma ditadura com vergonha de se identificar como tal. Guedes viu isso de perto no Chile nos últimos anos 70.

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Como professor universitário, viu a ditadura do general Augusto Pinochet apresentar-se como uma “democracia autoritária”. Em seguida, como uma “democracia protegida”. Naqueles tenebrosos anos, a ditadura militar brasileira de 1964, por vergonha ou simplesmente astúcia, travestia-se de “democracia relativa”.

Nem quando tirou a máscara em dezembro de 1968 com a edição do AI-5, seu ato de força mais brutal, a ditadura teve peito para se assumir como ditadura. Naquela data, entre os muitos presos sob o pretexto de que punham o regime em perigo, esteve o advogado conservador e anticomunista Heráclito Fontoura Sobral Pinto.

Paraninfo de uma turma de formandos em Goiânia, Sobral Pinto foi levado para uma delegacia em Brasília, e solto poucos dias depois. Interrogado, ouviu de um dos seus carcereiros que o governo da época estava gestando uma “democracia à brasileira”. Foi quando ele deu uma resposta que se tornaria célebre:

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– Ora, tenha paciência. Não existe democracia à brasileira. Existe é peru à brasileira. A democracia é universal.

Universal tem sido também o empenho dos adeptos do autoritarismo em eliminar ou restringir princípios e direitos que caracterizam a democracia. No passado, valeram-se para isso de tropas armadas e de tanques de guerra. Hoje, procuram minar a democracia por dentro, enfraquecendo-a aos poucos.

É o que assistimos.

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