Com este título, extraído da síntese poética do grande Thiago de Melo, escrevi artigo publicado na Folha de São Paulo, edição de 19/03/98. A percepção edênica ou de exploração predatória da floresta tropical cederam lugar à visão sustentável e estratégica, desde então, para enfrentar a grave emergência climática.
Com efeito, esta consciência está expressa na ampla e consistente pesquisa realizada pelo Observatório Febraban/IPESPE, período de 11 a 19 de agosto, em que 60% dos brasileiros colocam a Amazônia como o ecossistema mais ameaçado e acreditam na compatibilidade entre preservação da floresta e desenvolvimento sustentável.
O tempo demonstrou que, na transição de uma sociedade insustentável para uma sociedade sustentável, a Amazônia exerce um papel fundamental.
Neste sentido, os prevalecentes padrões de produção e consumo resultaram no passivo socioambiental que colocou a humanidade diante de uma natureza assustadoramente escassa.
Em contraste, enquanto o tema tornou-se central na agenda global, manteve-se periférico no conjunto das políticas públicas nacionais. Resultado: a fatura do descaso com o meio ambiente cobra o alto preço da tragédia climática.
No Brasil, o atual governo cogitou extinguir o Ministério do Meio Ambiente. Recuou. Porém, a gestão tem debilitado os mecanismos de governança socioambiental. E comprometeu a imagem do Brasil e suas potencialidades ecológicas. Apesar de tudo, escrevo este artigo esperançoso: a sociedade brasileira reagiu e se mobilizou na defesa do patrimônio ambiental.
Em maio do corrente ano, nove ex-Ministros do Meio Ambiente, em declaração conjunta, concluíram: “Reafirmamos que o Brasil não pode desembarcar do mundo em pleno século 21. Mais do que isso, é preciso evitar que o país desembarque de si próprio”.
Em julho, iniciativa articulada pelo Instituto de Clima e Sociedade, ex-Ministros da Fazenda e ex-Presidentes do Banco Central, subscreveram a carta “Convergência pelo Brasil” em defesa da retomada na direção da economia de baixo carbono.
Por sua vez, os presidentes do Bradesco, Itaú e Santander divulgaram um plano integrado para contribuir com a conservação e desenvolvimento sustentável da floresta. Em seguida, detalharam as medidas para o Vice-Presidente, Hamilton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal.
De outra parte, a percepção do risco crescente sobre a Amazônia aponta para a necessidade de ampliar o consenso na busca de soluções para dar sentido e respostas concretas ao desafio da sustentabilidade. Este foi o objetivo de 100 líderes na “Concertação”, em 26/8: firmar um pacto de responsabilidade política sobre um “bem da vida”.
Gustavo Krause foi ministro da Fazenda