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O garotão Kurz vai levar a Áustria para o bem ou para o mal?

O novo primeiro-ministro tem a tarefa, provavelmente impossível, de provar que pode controlar a imigração em massa sem cair no extremismo

Por Vilma Gryzinski 20 dez 2017, 10h06

Para os amigos, ele é o Wunderkind, o garoto prodígio que se tornou primeiro-ministro aos 31 anos. Para os inimigos, é um Pimpf, como eram chamados os integrantes da Juventude Nazista.

Sebastian Kurz provavelmente não é nenhuma dessas coisas, mas o peso que carrega é grande. Depois de uma vitória eleitoral espetacular, que tirou do cenário os dois partidos tradicionais, Kurz só conseguiu formar um governo de coalizão com o partido mais à direita, contaminado pelas simpatias nazistas em sua formação.

Com essa aliança, Kurz é o kanzler, ou chanceler, a designação em alemão para o chefe de governo. O vice-chanceler é Heinz-Christian Strache, que procura, quase inutilmente, tirar o Partido da Liberdade da esfera designada extrema-direita.

Kurz é o sonho de muitos políticos do momento: um conservador moderno, católico tradicional que fala pouco de religião, mas não vacila em defender princípios cristãos, beneficiado por uma imagem de dinamismo e renovação.

Strache é o pesadelo: o rótulo de extrema-direita, num país com a história da Áustria, impede que vá muito além de nichos eleitorais específicos.

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A ideia de que um técnico em saúde bucal, a profissão de Strache antes de entrar para a política, provoque tantas reações negativas só soa estranha a quem tem memória curta sobre o que o nacionalismo desenfreado causou na Europa há apenas oito décadas, quase nada no tempo da história.

Com todas as suas diferenças, Kurz e Strache sabem perfeitamente por que chegaram ao governo: a rejeição à imigração em massa desencadeada em 2015, quando a guerra civil na Síria e a abertura das fronteiras na Alemanha levaram à Europa mais de um milhão de pessoas, fossem ou não refugiadas de guerra.

O programa do novo governo reflete exatamente isso. A partir de agora, quem entrar com pedido de asilo na Áustria deve entregar todo o dinheiro em espécie que tiver – exigência menos severa do que na Dinamarca, onde a lei inclui objetos de valor, para ajudar no sustento. Como aplicar isso é meio difícil, mas os austríacos costumam ser bons nesse negócio de organização.

Telefones celulares serão verificados para apurar a identidade dos proprietários e a rota que os levou à Áustria – pelas leis europeias, o pedido de asilo deve ser feito no primeiro país de chegada, não no que ofereça mais vantagens sob a forma de benefícios.

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Estes, por sinal, não incluirão mais somas em dinheiro durante o processo de análise dos pedidos de asilo. Se aprovados, não poderão passar de 365 euros. Os que demonstrarem na prática o desejo de se integrar à sociedade do país que os acolhe receberão um “bônus de integração”.

Nada disso é absurdo ou perverso. Garantir a segurança dos cidadãos, reprimir abusos na entrada de estrangeiros e zelar pelo cumprimentos das leis são deveres autoevidentes de qualquer governo.

Em escala menor, mas incômoda, cidades austríacas vivem situações similares às da Alemanha, com aumento de criminalidade e formação de gangues que se juntam em praças e estações.

Alguns casos ganham repercussão, como o de Michael Buchmann, que toca viola na Sinfônica de Viena. No começo do ano, sofreu um dedo quebrado ao dizer a um “grupo de rapazes” que era proibido fumar na estação do metrô.

Apesar da origem envenenada pelo nazismo ao qual no passado tantos austríacos aderiram com entusiasmo, o partido de Strache é muito menos agressivo e está há muito mais tempo no cenário político do que o Alternativa para a Alemanha, que teve 13% dos votos e chegou pela primeira vez ao parlamento alemão.

Na última eleição parlamentar, cresceu muito, chegando a 20% do total. Mas a novidade mesmo foi Kurz, que levou o Partido Popular à primeira posição, com 31% dos votos – um pouco menos do que Angela Merkel, desde setembro quebrando a cabeça na Alemanha para formar uma coalizão.

De forma geral, a imprensa alemã mais à esquerda é muito mais crítica a Kurz e seu parceiro, refletindo um paternalismo histórico.

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Kurz, que é contra o aborto e foi à Marcha por Jesus no dia da parada gay em Viena, já disse que se aconselhou com um padre sobre a questão da imigração em massa e procura seguir a orientação que ouviu: “Nunca perder a compaixão pelo próximo”.

“Como político, no entanto, é preciso nunca perder a noção da realidade”, acrescentou. Só de procurar conciliar as duas coisas, ou pelo menos dizer que procura, é um sinal positivo.

Com suas orelhas enormes, uma delícia para os caricaturistas, ele vai precisar dar ouvidos aos bons sentimentos e às exigências realistas. E, como um Ulisses amarrado no mastro, resistir à tentação dos maus conselhos.

Chegar ao poder aos 31 anos, ter um governo de coalizão com um partido que se originou no neonazismo, administrar as tensões que a questão dos refugiados criou entre membros da União Europeia, promover reformas liberais como a flexibilização das leis trabalhistas e a redução dos impostos são algumas das demandas quase impossíveis para o mais jovem chefe de governo do mundo.

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E ainda enfrentar um certo ciuminho de Emmanuel Macron, o presidente francês que perdeu o troféu da juventude. Ainda bem que Sebastian Kurz, que continua a morar com a namorada no bairro operário – operário austríaco, evidentemente – onde nasceu não parece ter as tendências megalomaníacas de Macron.

A festa de 40 anos do presidente francês foi numa pousada que faz parte do castelo de Chambord, a mais bela joia do Loire.

Kurz já disse que se sua pouca idade for um problema, “existe consolo no fato de que a cada dia que passa, o problema diminui”.

Mas também sabem tirar partido da própria juventude. Numa tentativa de pegadinha, a revista alemã Spiegel perguntou se ele já tinha visto as fotos de Strache de farda, participando de algum tipo de treinamento suspeito numa floresta austríaca.

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“Vi”, respondeu Kurz. “Elas foram tiradas antes que eu nasci.”

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