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Posturas diante da vacinação: negacionismo, triunfalismo e aceitabilidade

O ensaísta Davi Lago afirma que, sem simplismos infantis, o Brasil pode avançar no combate à peste

Por Davi Lago
10 jan 2021, 14h42

A historiadora da ciência Anne-Marie Moulin afirma no estudo A hipótese vacinal (2003) que é um erro tratar de um tema complexo como a vacinação com dois simplismos: o negacionismo e o triunfalismo. Ambas as atitudes remontam à gênese da história da vacinação no contexto dos surtos de varíola, com o desenvolvimento da primeira vacina pelo inglês Edward Jenner em 1798. Os experimentos de Jenner foram considerados repulsivos por parte dos médicos da época, mas como as vantagens da vacinação se tornaram óbvias, os negacionistas foram derrotados: a vacinação se tornou compulsória na Inglaterra por força de sucessivas leis conhecidas como vaccination acts. A posterior declaração de erradicação da varíola pela Organização Mundial da Saúde no século 20 estabeleceu um padrão pelo qual se avalia o efeito de todos os programas vacinais. De fato, a vacinação passou a ser apresentada como a solução global para o problema das epidemias e das doenças infecciosas. Contudo, a professora Moulin adverte que a história vacinal não é unívoca, pois carrega a marca da contingência histórica. Não se deve aderir a uma postura triunfalista ingênua: a ciência evoluiu com erros e acertos; as políticas públicas diversificaram-se; vacinas apareceram e desapareceram; e o princípio da obrigatoriedade tem sido repetidamente proclamado, atacado ou revisto.

Qual seria, então, a postura mais coerente diante destes dois simplismos? Para responder a questão Moulin examina as revoltas populares históricas contra a vacinação em regiões como Argélia, Egito, Iêmen, Camarões e Brasil, percebendo pontos em comum: disputa da credibilidade das informações, falta de clareza das diretrizes e motivações governamentais e, sobretudo, falta de confiança da população em seus representantes políticos. As revoltas contra vacinas proliferam em ambientes políticos instáveis. Assim, Moulin afirma que os modernos programas de vacinação devem ser pautados pela aceitabilidade: “demonstrando uma certa mudança de mentalidades e de métodos na medicina, o termo aceitabilidade difundiu-se rapidamente, rimando com governança e compliance”. A professora Moulin afirma ainda que “uma medida obrigatória e preventiva deve dispor de argumentos fortes se quiser evitar a impressão de arbitrariedade […] os biólogos, cientes das dificuldades encontradas no percurso da longa história das vacinas, anseiam pelo advento do rigor e da transparência no campo das vacinas”. A urgência de demandas ocasionada pela pandemia da COVID-19 comprova que os postulados da professora Moulin estão corretos. Sem simplismos infantis o Brasil pode avançar no combate à peste. A aceitabilidade emerge de consensos básicos firmados por uma comunidade com laços mínimos de solidariedade.


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