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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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O relato das mulheres que acusam o médico Nabil Ghorayeb de assédio sexual

Entre as consequências dos episódios denunciados ao MP e ao Cremesp, elas citam desistência dos estudos, sentimento de culpa e afastamento da família

Por Caíque Alencar Atualizado em 5 jun 2021, 10h54 - Publicado em 5 jun 2021, 08h45

Após relatarem os episódios traumáticos em que teriam sido assediadas sexualmente, as mulheres que acusam o médico Nabil Ghorayeb  contaram como os acontecimentos envolvendo o renomado cardiologista tiveram impacto em suas vidas. Os relatos, dados com exclusividade a VEJA, revelam as consequências com as quais as vítimas desse tipo de abuso muitas vezes precisam lidar. Entres as consequências, elas citam desistência de estudo, culpabilização de si mesma e afastamento da família.

A fisioterapeuta E.C., de 44 anos, diz que, na época em que afirma ter sido assediada, participava de um projeto de pesquisa que, futuramente se tornaria tema no qual seguiria estudando. “Desisti do meu sonho. A ideia do projeto era que ele se tornasse o meu mestrado. Foi uma coisa que mudou a minha vida”, lamenta E.C., que responsabiliza Nabil por ter tomado essa decisão. Segundo a fisioterapeuta, ela foi assediada em 2000, quando tinha 24 anos e era estagiária na ala de reabilitação cardiológica do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo, onde Nabil atuava.

O episódio fez tão mal a E.C. que ela conta não ter conseguido procurar ninguém para falar sobre o assunto. “Não tive forças para fazer absolutamente nada, mesmo porque ninguém acreditaria em mim. E pior, eu me culpei. Culpei minhas roupas e culpei minha simpatia. Me senti envergonhada. Eu não tinha a experiência e a informação que tenho hoje”, afirma. Ela formalizou denúncia junto ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) na terça-feira, 1º, e prestou queixa ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) no dia seguinte. “Eu sei que o que mais irei ouvir é ‘por que agora?’. Porque agora sou forte, porque a dor estava aqui escondida e eu não sabia. Porque tenho sobrinha, filha, amigas. E quero que tudo isto sirva como exemplo para estes abusadores, que não estamos sozinhas”, diz a fisioterapeuta.

As consequências também foram dolorosas para a administradora de empresas Bárbara Leite, de 40 anos. Ela afirma ter passado por um “apagão” logo após a segunda vez em que diz ter sido assediada por Nabil. As duas ocorrências foram em 2018, quando ela ainda era a responsável da família por acompanhar o tratamento do pai, que era paciente do cardiologista há mais de dez anos.

“Quando eu cheguei, ele me deu um beijo e um abraço superconstrangedor, levantou a minha mão, me girou e disse: ‘Nossa, deixa eu ver tudo isso’”, conta a administradora de empresas Bárbara Leite, de 40 anos, a única que aceitou ter seu nome divulgado.

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O trauma foi tão intenso para Bárbara que ela foi obrigada a deixar de acompanhar o pai nas consultas. “É uma chantagem emocional muito grande que acontece. É tanto uma chantagem que eu só consegui falar publicamente que eu tinha sofrido assédio de um cardiologista depois que o meu pai morreu, como se nada mais me impedisse de fazer a denúncia”, diz.

Bárbara nunca mais voltou ao consultório de Nabil. “É muito triste eu ter me afastado de acompanhar o meu pai, de estar ao lado dele em um momento de fragilidade, que é quando você precisa de apoio e conforto. Eu não pude fazer isso por causa de Nabil. É como escolher entre acompanhar o pai e ser assediada ou não acompanhar e não sofrer assédio. Eu não considero que só eu fui vítima do assédio do Nabil. O meu pai também foi porque ele sofreu sabendo que a filha tinha sofrido um assédio sexual e, com certeza, ele sofreu por continuar indo nesse médico.”

VEJA localizou e entrevistou cinco das mulheres envolvidas no caso — a reportagem está na edição desta semana da revista e pode ser lida aqui. Os ataques teriam ocorrido, em sua maioria, no consultório particular do médico, na Zona Sul da capital paulista.

Defesa

O advogado Paulo Soldá, defensor de Ghorayeb, conta que já protocolou petição dando a versão do cardiologista sobre os fatos. “Também juntamos ali algumas provas, a exemplo de alguns áudios”, disse ele a VEJA, sem dar maiores detalhes. Ghorayeb, em nota enviada à redação, garante que “são inverídicas, infundadas e descabidas as acusações a ele atribuídas” e que “não consegue entender a motivação de acusações caluniosas e difamatórias, sem apresentar nenhuma prova”. Afirma, ainda, que tem “mais de cinquenta anos dedicados à medicina, cujo resultado é o respeito dos seus pacientes, dos seus pares e a conquista de uma reputação ilibada

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Denúncias em alta

Segundo dados do Cremesp, a realidade de E.C. e de Bárbara é a de outras dezenas de mulheres no estado. Um levantamento feito pelo conselho a pedido de VEJA mostra que o número de denúncias contra médicos cresceu nos últimos dois anos. Em 2018, a entidade recebeu 60 acusações de assédio sexual. Nos anos seguintes, subiram para 77 em 2019 e 83 em 2020. As denúncias que resultaram em processos ético-profissionais nos três últimos anos foram 16, 14 e 24, respectivamente.

Até 31 de maio deste ano, também já foram feitas 31 denúncias — atualmente, o conselho tem 153 sindicâncias abertas. Se for feita a comparação proporcional de acusações que resultaram em processos ético-profissionais, é possível observar um aumento. Em 2019, o percentual foi de 18,2%. Já em 2020, ano em que o Brasil passou a enfrentar a pandemia, o número subiu para 28,9%.

Quando recebe uma denúncia, o Cremesp abre uma sindicância, coleta provas – prontuários, receitas, laudos, fiscalizações e outros documentos que forem necessários – e ouve todas as partes envolvidas. Nessa, fase, se forem encontrados indícios de infração ética, o caso avança para a instauração de processo ético-profissional — caso contrário, a denúncia é arquivada.

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Após o fim de todas as etapas processuais, o médico vai a julgamento e, se comprovada a culpa, ele pode ser punido com advertência confidencial, censura confidencial, censura pública, suspensão de registro profissional por até 30 dias ou cassação do exercício profissional — neste último caso, a punição ainda precisa ser referendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

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