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Por Coluna
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A Chegada

O importante não é se equiparar a 2001 (até porque é impossível): é ter a ambição de tentar

Por Isabela Boscov Atualizado em 12 jan 2017, 17h10 - Publicado em 24 nov 2016, 14h00

As naves são imensas – têm meio quilômetro de altura –, mas elas transmitem uma certa placidez: com a forma da íris de um olho, lisas e delicadamente orgânicas, elas pairam sem esforço nem ruído, a poucos metros do chão. Elas chegaram sem aviso nem estrondo; a impressão que as pessoas têm é que todas simplesmente se materializaram, de um instante para o outro, em doze locais distintos da Terra. Não parece haver lógica na escolha; uma nave apareceu flutuando sobre as favelas de Caracas, outra sobre o deserto do Sudão. Uma se colocou sobre o Mar da China, outra sobre a Sibéria. Outra ainda sobre Sydney, e mais uma sobre o Paquistão. A que está no meio da paisagem silvestre de Montana, no interior montanhoso dos Estados Unidos, é que será a protagonista do novo filme do diretor canadense Denis Villeneuve, de Incêndios, Os Suspeitos e Sicario (e de Blade Runner 2049, que estreia no ano que vem). É para ela que são chamados a linguista Louise Banks (Amy Adams) e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner). Em todas as localidades, forças-tarefa se apressam em tentar compreender quem são os recém-chegados, e qual o propósito deles, se a paz ou a guerra; é de suma importância tentar estabelecer algum diálogo. A apreensão da população mundial e dos governos está rapidamente progredindo rumo ao pânico. E, do pânico para o desastre, o passo é curto, ainda mais porque a China e a Rússia, particularmente, vêm se comportando de maneira indócil.

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Quando uma ficção científica se propõe a especular e investigar, como o faz A Chegada, há muita coisa que ela precisa comunicar por meio unicamente de imagens: comece a inventar explicações ou teorias nos diálogos, e é quase certeza que a coisa toda vai parecer mais pobre. Por outro lado, crie imagens verdadeiramente evocativas, e os sentidos se alargam. Não é acaso que 2001 – Uma Odisseia no Espaço, a mais influente de todas as ficções científicas do cinema, quase não tenha diálogos durante suas duas horas e meia de duração: Stanley Kubrick sabia que o que se diz logo pode soar datado ou inadequado; já uma imagem, ou uma música – ou a conjunção certa entre imagem e música –, essas podem atravessar o tempo sem perder nada da sua força e do seu poder de provocação.

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É isso que Denis Villeneuve busca em A Chegada: a potência da imagem. Ver as naves pairando, ou experimentar a vertigem que Louise e Ian sentem quando entram no túnel vertical que leva ao interior da nave, cuja gravidade específica causa um efeito visual desorientador – ou receber o impacto da aparência ao mesmo tempo estranhíssima e muito familiar dos alienígenas: trabalhando com o excelente diretor de fotografia americano Bradford Young, de filmes como O Dono do Jogo e O Ano Mais Violento, e com a música soberba do islandês Jóhann Jóhannsson, de Sicario, Os Suspeitos e A Teoria de Tudo, essas são as matérias-primas sensoriais que Villeneuve molda de maneiras belíssimas, levando a história para trás e para a frente, em uma estrutura que que, a certa altura, vai se revelar como a razão de ser do filme. Eu sei que o trailer dá a impressão de entregar muita coisa da história. Mas garanto que é só impressão, e que Villeneuve não deixou entregar nadinha do que vem pela frente.

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Pode parecer contraditório que toda a atenção se concentre sobre os sentidos em um filme protagonizado por uma linguista cuja missão é desenvolver um vocabulário em que terráqueos e alienígenas possam conversar. Pode soar também bastante abstrato, mas não é: é muito palpável, e o diretor consegue tirar daí quantidades surpreendentes de tensão. Com aquela sua tração emocional característica, seu dom para o suspense e o trabalho exímio de seus atores – Amy Adams em particular, mas também Jeremy Renner, Forest Whitaker e Michael Stuhlbarg –, Villeneuve faz de A Chegada uma sinfonia sobre a linguagem: como ela pode limitar ou expandir nossos horizontes, e como tem de servir não só para uma comunicação limpa, livre de mal-entendidos, mas também (ou principalmente) para exprimir a nossa sensação de maravilhamento com o mundo, com o novo e com o inesperado. É 2001 – Uma Odisseia no Espaço? Esqueça: nada vai ser 2001, porque não há quem tenha o radicalismo formal e conceitual de Kubrick, e porque o mundo de hoje é muito diferente do de 1969; o impacto de um filme não depende só dele, mas também da sua plateia. O importante em A Chegada, assim como no Interestelar de Chris Nolan, é que esses cineastas sabem que sempre vão perder na comparação – mas continuam a se inspirar na ambição do cinema de Kubrick, e a almejar um entretenimento com alguma inquietação.

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Trailer

A CHEGADA
(Arrival)
Estados Unidos, 2016
Direção: Denis Villeneuve
Com Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg, Tzi Ma, Mark O’Brien
Distribuição: Sony Pictures

 

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