A atabalhoada, e fundada em dois pesos e duas medidas, ordem de prisão dada pelo presidente Omar Aziz ao ex-diretor de Logística do ministério da Saúde, Roberto Dias, impõe à CPI da Covid-19 reflexão e, sobretudo, autocrítica.
Compreende-se que o senador Aziz tenha perdido a paciência diante da gota d´água. Desde o início, depoentes têm cometido perjúrio sem que o presidente tenha aceitado os vários pedidos de prisão feitos por integrantes da comissão em relação a outras testemunhas que infringiram o compromisso com a verdade. É de estressar qualquer um.
Mas a irritação não é prerrogativa do investigador, tampouco contribui para o bom andamento da investigação. Roberto Dias não foi nem mais nem menos evasivo que outros depoentes. Donde não se justifica a aplicação a ele de peso e medida diferentes.
Caberia, a partir desse episódio que a CPI refletisse sobre o risco de se perder nos próprios erros. O maior deles é a ausência de preparo prévio por parte dos senadores. Açodados, não se inteiram suficientemente bem dos fatos a respeito dos quais tratarão em cada sessão, dando, assim, aos depoentes a oportunidade de mentir, deixando aos senadores apenas a denúncia da mentira, o que objetivamente leva a muito pouco ou quase nada.
Os excessos (seletivos, diga-se) cometidos pelo agressivo relator que parece mais inebriado com a inédita situação de estilingue quando vinha de um longo período na condição de vidraça, também não contribuem para o bom andamento dos trabalhos. Esse tipo de comportamento mais intimida que consegue dar eficácia aos questionamentos.
Prisões em CPIs podem até ter um eficiente efeito como espetáculo, mas de pouco adiantam. Em 1999, a decretação da prisão do ex-presidente do Banco Central Chico Lopes foi o ato que marcou o início do esvaziamento da CPI dos Bancos.
Uma coisa é certa: a prisão de Roberto Dias não levará depoentes que têm algo a ocultar a se transformarem em arautos da mais pura verdade.