O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) não falou sério quando propôs à CPI da Covid a convocação do presidente Jair Bolsonaro. Criou uma confusão no estilo constrangimento com constrangimento se paga para tentar anular a ofensiva dos governistas que conseguiram aprovar a chamada de nove governadores e um ex-governador para falar sobre os repasses de verbas federais aos estados e explicar possíveis irregularidades.
Ao justificar o requerimento, que está em suspenso, o próprio Randolfe deixa claro que se trata de um truque. Ele alega que as mesmas restrições jurídicas impostas à CPI para investigar chefes de executivos estaduais se aplicam também ao presidente da República.
O senador argumenta que se há obstáculos para os governadores há também para Bolsonaro e vice-versa. Ou seja, se os já convocados forem obrigados a ir o presidente deve ser submetido à mesma regra. A ideia, portanto, é criar embaraços aos governistas e obrigá-los, talvez, a um recuo.
Para o bom andamento dos trabalhos da CPI, na verdade, não interessa a presença de Jair Bolsonaro, cujas ações e omissões na gestão da pandemia não dependem do depoimento dele para serem desvendadas. Ainda que o presidente fosse, faria da comissão mais um palanque em nada contribuindo para as investigações.
O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), defendeu a convocação dos governadores para aplacar os ânimos dos governistas, minoritários no colegiado, ciente de que essa é uma questão em aberto. A CPI não tem jurisdição para investigar governadores, tarefa das assembleias legislativas, e por isso o fato determinado a ser investigado é apenas o repasse das verbas federais.
Tudo indica que Omar Aziz deixou a tropa de choque do Planalto ganhar um lance para ver o problema mais à frente ser resolvido pela Justiça.