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Por Coluna
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Sabor do tempo

Um espelho revelador me trouxe a imagem do homem velho, sozinho diante da sua cerveja pós-almoço, imerso num mundo inacessível para o resto do mundo

Por Heraldo Palmeira
Atualizado em 30 jul 2020, 20h34 - Publicado em 12 fev 2018, 07h09

Heraldo Palmeira

Fazia um calor infernal naquela tarde já avançada. O ar refrigerado do restaurante aliviou um pouco o mal-estar alastrado por todos os cantos da cidade. Finalmente meus horários incertos ainda mais num sábado entraram em sintonia com o horário da famosa feijoada semanal servida ali.

Bastou eu entrar no salão para que o velho garçom abrisse aquele tradicional sorriso de acolhimento e viesse ao meu encontro de braços abertos. Ainda caminhando para me acomodar, ele já perguntou se eu queria minha caipirosca de lichia, com Absolut e adoçante. Profissional!

O costume de comer sempre mais tarde termina garantindo acesso às mesas que mais me atraem nos restaurantes naquele, uma que guarda distância apropriada do palco onde bons músicos vão se revezando pelo repertório refinado.

Depois do pão italiano inevitável, com azeite, fui me enfronhando na feijoada espetacular e seus complementos, até chegar ao arroz doce de arremate, na soleira do cafezinho final.

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Numa das pilastras, um espelho revelador me trouxe a imagem do homem velho, sozinho diante da sua cerveja pós-almoço, alheio à música e ao ambiente ao redor. Rosto enrugado, olhar entrado num mundo inacessível para o resto do mundo. Entregue a falas e gestos por certo destinados a memórias e figuras invisíveis que passaram a povoar seu cérebro. Provável consequência do tempo e dos catabis particulares que sacolejaram sua jornada, desenhada naquele semblante de solidão.

Eu nunca vira aquele homem. Era familiar ao restaurante e o restaurante parecia ter se transformado no que lhe sobrou de alento. Mas ele ultrapassou aquela linha tênue da saudade prévia que a gente sente de vez em quando, do afeto comovido, da dúvida do amanhã.

Fui embora e ele ficou. Saí me perguntando se haverá tempo no tempo dele e no meu tempo para vê-lo novamente em uma daquelas mesas. Mesmo que eu entre e saia sem lhe dirigir sequer um aceno, que ele continue apenas um estranho sem nome, eu vou ficar feliz ao vê-lo ali outras vezes.

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