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Por Coluna
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Campeões em arremesso de verba

Torço para que o presidente eleito dê ao esporte brasileiro todo o apoio, incluindo a extinção da burocracia campeã em corrupção e desvios de recursos

Por Ana Paula Henkel
Atualizado em 30 jul 2020, 20h11 - Publicado em 9 nov 2018, 16h01

Ana Paula Henkel (publicado no Estadão)

O Brasil acaba de eleger um destacado ex-atleta militar, formado em educação física e amante declarado do esporte para ocupar a Presidência. Os militares são responsáveis por 13 das 19 medalhas brasileiras na última Olimpíada. Nossas Forças Armadas nos deram nada mais do que 68% do total das medalhas olímpicas em 2016. Esportistas e profissionais da área deveriam estar exultantes, afinal, temos um Ministério da Defesa que faz mais pelos atletas olímpicos do que um Ministério do Esporte, mas este não é realmente um país para amadores.

A última gritaria dos campeões de arremesso de verba, e seus companheiros de revezamento de cargo político e assalto sincronizado, diz que a fusão do famigerado Ministério do Esporte com outras pastas no futuro governo seria prejudicial ao país e aos esportistas em particular, como se participação da burocracia estatal no setor fosse um exemplo e não uma pasta caracterizada, especialmente nos últimos anos, por algumas das mais escandalosas e bilionárias roubalheiras do mundo. O Brasil tem sido medalha de ouro em corrupção e este ministério, criado por Lula em 2003, tem uma triste participação em tudo isso.

Passei mais de 20 anos da minha vida representando, orgulhosamente, o Brasil nas quadras, incluindo quatro Olimpíadas em duas modalidades diferentes, representei jogadores e suas pautas junto às mais altas entidades esportivas no mundo e acredito que possa acrescentar uma coisa ou outra no debate. Hoje moro no país que lidera há décadas o esporte mundial e, não contem para os corredores dos 100 metros de argumentos rasos, por aqui não há Ministério do Esporte. Na Olimpíada do Rio em 2016, os EUA conquistaram 121 medalhas, 46 de ouro. A milésima medalha de ouro americana foi conquistada exatamente no Brasil, no revezamento 4×100 medley feminino da natação.

Até a última vez que chequei, o país de Michael Phelps (maior medalhista da história dos Jogos) está se virando muito bem sem um ministério dedicado ao esporte e, perdoem a sinceridade, é provável que a ausência de um clube de burocratas com bilhões na mão e nada na cabeça tenha contribuído bastante para esse resultado. A própria ideia de que o fim de um ministério é o fim da atividade a qual ele, em tese, é destinado, mostra o tamanho do atraso da discussão política e dos grilhões ideológicos que ainda prendem o Brasil no subdesenvolvimento.

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A lamentável choradeira de alguns se explica, evidentemente, pelo maior controle que virá das torneiras abertas da corrupção e do favorecimento de todo tipo de oportunista que se aproveita do tamanho do Estado brasileiro e da conivência de muitos para usar o dinheiro público para interesses privados, a modalidade de privatização que a turma do “quanto mais Estado, melhor” realmente defende.

Basta uma busca simples no Google com as palavras “Ministério do Esporte corrupção” e mais de 10 milhões de resultados serão apresentados. De esquemas bilionários envolvendo políticos, ministros, confederações e “atletas fantasmas” a pequenas fraudes no interior da Bahia, o Ministério do Esporte foi, sistematicamente, usado durante décadas para desvio de recursos públicos que deveriam ter ido para o esporte, principalmente o de base educacional que visa a formação a longo prazo de atletas nas escolas.

Se o novo governo realmente acabar com a farra das ONGs, algumas com captação de recursos públicos que beiram os R$50 milhões, e de alguns parasitas e sanguessugas, eliminando os intermediários e garantindo que haja realmente incentivo ao esporte brasileiro de forma transparente, podemos voltar a sonhar com um país que ocupe outra posição no esporte mundial.

O Brasil não precisa de um Ministério do Esporte, mas de um compromisso claro, sério e real com o esporte como se faz nos países desenvolvidos. O cuidado com a saúde, a alimentação e a preparação física começa na mais tenra idade e tudo é tratado nas escolas e universidades aqui nos EUA com uma importância quase obsessiva.

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Torço para que o presidente eleito, com uma vida quase indissociável do esporte, um atleta admirável na juventude e com formação superior na área, um ex-militar que sabe o papel atual das Forças Armadas Brasileiras nas competições olímpicas, um sexagenário que até sofrer um atentado hediondo ainda praticava esporte regularmente, dê ao esporte brasileiro, principalmente na sua base, o apoio que precisa, incluindo a extinção da burocracia campeã em corrupção e desvios de recursos.

O caminho até um modelo mais independente e mais eficiente para o esporte é longo, nossa realidade é diferente do formato dos americanos, mas por que não almejarmos algo parecido? É por isso que não sou contra a participação do Estado no fomento ao esporte, mas nunca, de forma alguma, com a gestão do distante, corrupto, incompetente e interesseiro governo federal a centenas ou milhares de quilômetros dos problemas esportivos e suas vertentes. Como aqui nos EUA, qualquer gasto importante do Estado com esporte deveria ser local, decidido nos estados e municípios, quando não na própria comunidade. Quanto mais perto do cidadão, melhor.

Visitando as páginas do passado do ministério dito guardião do esporte, é triste não apenas a constatação do envolvimento de quase todos os ministros com alguma forma de corrupção, mas também o fato que quase nenhum deles tinha uma verdadeira ligação e comprometimento com o esporte ou a educação. Se quisermos ser uma potência esportiva, e temos material humano para isso, ou abrir o caminho para que crianças e adolescentes se tornem adultos responsáveis através da vida esportiva, precisamos começar a repensar a estratégia desse jogo. E um ministério inchado, corrupto e ineficiente que cumpre apenas um papel de vitrine política é uma baita bola fora.

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