Sob a sombra de Trump, COP29 tem como desafio criar financiamento climático
A questão crucial para a cúpula será como ajudar os países em desenvolvimento a lidar com as condições meteorológicas extremas. Brasil terá papel fundamental
A 9ª Conferência da ONU sobre o Clima (COP29) começa oficialmente nesta segunda-feira, 11, em Baku, capital do Azerbaijão, em clima de incerteza e tensão internacional. Cerca de 100 líderes mundiais são esperados nos primeiros três dias, e depois disso as negociações serão conduzidas por seus representantes, principalmente ministros do Meio Ambiente e diplomatas de alto escalão.
No encontro, a questão central será a discussão sobre os mecanismos de financiamento climático. Países em desenvolvimento, Brasil incluído, querem garantias de que as economias mais avançadas vão direcionar para eles trilhões de dólares em investimentos na próxima década para ajudá-los a cortar as emissões de gases de efeito estufa.
Segundo as nações emergentes, esse é um passo fundamental para ajudá-las a financiar a transição energética para uma economia de baixo carbono, uma mudança custosa, mas fundamental para manter de pé o Acordo de Paris, firmado em 2015, que limita o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Além disso, permite que países com menos recursos possam lidar com o clima extremo, cada vez mais comum e que resulta do superaquecimento da atmosfera.
O impacto da eleição de Donald Trump
O triunfo de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, no último dia 5, trouxe alarme aos envolvidos com a COP29. Cético no que diz respeito às evidentes mudanças do clima, o presidente eleito já anunciou que vai retirar novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris, como havia feito ao assumir seu primeiro mandato, em 2017 (Biden, depois, desfez o decreto de Trump, colocando o país de volta no tratado).
Trump também já anunciou que vai colocar de pé políticas que vão aumentar a exploração e o uso de combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás. Em seus comícios, por exemplo, adotou o slogan “Drill, baby, drill” (perfure, baby, perfure), sobre seu apoio à expansão dos projetos de prospecção petrolífera. Além de tornar fictício qualquer comprometimento dos Estados Unidos com os tratados internacionais do clima, essa postura de Trump estimula que outros governos ignorem a agenda de eliminação do petróleo.
Brasil tem papel central
A delegação brasileira é aguardada com expectativa entre especialistas do clima. Após sofrer uma queda, o presidente Lula cancelou sua presença por recomendação médica. Sua defesa aberta de um imposto para os super-ricos como forma de financiar a transição climática o tornou querido por ativistas e países vulneráveis. No lugar, estará presente a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, muito respeitada internacionalmente.
O Brasil ocupa uma posição-chave como o futuro presidente da COP30. No ano que vem, em Belém, na Amazônia, os países devem chegar com novos planos climáticos — conhecidos como contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) —, impondo cortes mais rigorosos nas emissões de gases de efeito estufa do que os já prometidos. Eles devem estar alinhados com o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C.
O Brasil usará a COP29 para pressionar governos em atraso a apresentarem suas NDCs o mais cedo possível. Tecnicamente, o prazo final é fevereiro de 2025.