Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Os casais que reinventaram a troca de alianças após casamentos cancelados

Por causa do coronavírus, a opção de quem não quer adiar a subida ao altar é dizer o “sim” via aplicativo ou mesmo em uma igreja vazia

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 4 jun 2024, 14h51 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Tudo estava nos conformes para o casamento da advogada Laíss Casullo, de 33 anos, com o corretor de imóveis Erik Guerrieri, de 30, marcado para 21 de março em um charmoso restaurante italiano de Brasília, fechado para 55 convidados. A quatro dias da festa, a pandemia de Covid-19 baixou na capital federal e, com ela, a proibição de aglomerações. Assim, não mais que de repente, lá se foi o sonho milimetricamente planejado pelo casal durante dez meses. À medida que se aproxima maio, o mês das noivas, vai ganhando altura a montanha de convites que perdem a validade por causa do vírus infame, triste e inescapável. E, em meio à frenética correria para reagendar tudo, até a lua de mel, um punhado de noivos ousados está preferindo manter a data e casar como dá: em casa, via aplicativo, sem altar, sem convidados e sem música — mas de vestido de noiva, o único item do qual não se pode abrir mão. Laíss e Guerrieri foram ao cartório enquanto isso ainda era possível e lá, vestidos a caráter, trocaram votos diante de uma testemunha improvisada e uma tela de celular, que transmitiu o “sim” em tempo real para pais, padrinhos e amigos. “Fiquei um pouco triste, porque tinha planejado cada detalhe, mas a experiência serviu para resgatar a essência do casamento, que somos nós dois”, filosofa a noiva.

    Agora que nem o civil no cartório é opção, o normalmente saudável mercado de festas de casamento está na UTI: no Estado de São Paulo, onde os casórios movimentam 5 bilhões de reais por ano, registrou-se o cancelamento de todas as grandes comemorações entre o fim de março e meados de julho (a data remarcada pelos mais otimistas), um corte de 40% na receita de cerimonialistas, doceiros e floristas. “Os adiamentos são uma tragédia sem precedentes no ramo. As empresas vão ter dificuldade em sustentar os custos fixos até a retomada das atividades”, lamenta o presidente da Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta), Ricardo Dias.

    amordefilme-534.jpg
    BÊNÇÃO EXCLUSIVA - Raquel e Lombardi na igreja vazia: além deles, só o padre, os pais, quatro padrinhos e uma daminha de honra (David Zoëga/.)

    Quando a ordem é ficar todo mundo em casa, improvisa-se o ritual da melhor forma possível. No Recife, Denise Guimarães, de 37 anos, e Marcelo Siqueira, de 40, resolveram se casar via videoconferência — eles em um lugar, o juiz em outro. A festa, pensada para setenta pessoas, limitou-se à reunião dos pais, irmãos e uma amiga na casa da mãe da noiva. “A gente riu muito durante a cerimônia. Estressante mesmo foi cancelar todos os serviços”, relata Denise. Diante das dificuldades de locomoção, o “sim” dos noivos perante o juiz (separados por quilômetros de distância, embora conectados por um smartphone) passou a ser considerado um casamento civil válido. Já o religioso é mais complicado. No catolicismo, o sacramento do matrimônio concentra o maior número de regras canônicas — e uma delas é justamente ter gente em volta. “É um ritual essencialmente comunitário e dificilmente será flexibilizado”, acredita o teólogo Felipe Magalhães, da PUC-­MG. Quem insiste, porém, consegue. No caso da delegada Raquel Gallinati, de 44 anos, e do investigador de polícia Marcel Lombardi, de 40 — ela, budista, ele, católico —, a festa para 120 pessoas em São Paulo deu lugar a uma cerimônia na Paróquia de Sant’Ana celebrada por um padre e presenciada pelos pais, quatro padrinhos e uma daminha. “Decidimos que o mais importante era a bênção e não nos arrependemos”, assegura Raquel.

    Continua após a publicidade

    Tudo indica que, passado o pior da pandemia, casamentos voltarão a ser motivo de festança, visto que o ato de união — presente em todas as culturas, sem exceção — requer algum tipo de comemoração desde seus primórdios, que remontam às primeiras religiões politeístas. “O casamento é um rito de passagem relevante por marcar uma troca de papel diante da sociedade. Por causa disso, exige muito mais preparo do que uma festa qualquer”, explica o psicólogo Ailton Amélio, da Universidade de São Paulo (USP). Ao longo da história, a cerimônia foi ganhando pompa e circunstância, tomando como espelho as suntuosas celebrações nas cortes da Idade Média, que se estenderam com todo o vigor às monarquias modernas — preservando, contudo, os pilares originais. “Para preencher seu valor simbólico, o rito do casamento envolve juramento solene, testemunhas que certifiquem sua validade, trajes e comidas especiais e uma boa dose de emoção”, arremata Amélio. Isso, claro, quando o novo coronavírus for embora e pudermos voltar a viver em feliz aglomeração.

    Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.