O método Steve Jobs
Centralizador e perfeccionista, inventivo e empreendedor. Esse era o perfil do homem que criou a maior empresa de tecnologia da história, a Apple

Não existe alguém no mundo da tecnologia que desperte a mesma paixão que Steve Jobs provoca. Seus admiradores, antes um restrito grupo de usuários de Macs, podem atualmente ser encontrados entre jovens e velhos, pobres e ricos, especialistas e neófitos – um fruto do sucesso de iPod, iPhone e iPad. As palavras do gênio inventivo eram ouvidas com atenção por milhares conectados à internet a cada apresentação de um novo produto que ninguém sabia que existia, mas que, a partir de sua aparição, tornava-se um item “necessário” ou até “vital”. Ao mesmo tempo, Jobs era conhecido como um chefe extremamente exigente, cruel por vezes, um perfeccionista que, segundo lendas, chegou a demitir funcionários no elevador da companhia porque eles demoraram a responder a uma indagação acerca de um produto em desenvolvimento.
Jobs não era engenheiro, designer ou administrador de empresas formado por uma universidade. Mesmo assim, conseguiu criar produtos inovadores e esteticamente imitados por toda a concorrência, além de ter tirado a empresa que ajudou a criar da falência, transformando-a em uma das mais rentáveis e lucrativas do mundo. Talvez essa seja a resposta para o seu sucesso: em vez de pensar como um técnico, ele enxergava o mundo pelo prisma do usuário. “Jobs conseguia conversar com as pessoas de igual para igual, sem aquele discurso técnico, chato”, afirma Eric Johnson, da fundador e diretor da Ironfire Capital, empresa de investimentos.
Steven Paul Jobs foi adotado. Seus pais adotivos tiveram de prometer que o menino cursaria a faculdade para poder ficar com ele. Apesar dos esforços, o rapaz desistiu de estudar seis meses depois de ingressar na Reed College, uma universidade liberal em Portland, Oregon. Resolveu viajar pela Índia (Jobs é budista) e, de volta à Califórnia, se juntou a Steve Wozniak para fundar a Apple, se tornar o mais jovem milionário da indústria de informática, ser chutado da empresa que criou, montar uma nova empresa (que fracassou), comprar um estúdio de animação 3D (que se tornaria a Pixar), voltar para a Apple e mudar a vida de todos nós com os produtos que ajudou a criar durante a última década.
A melhor maneira de entender o sucesso de Steve Jobs é recordar a avaliação que ele fez de si próprio durante o discurso proferido para a turma de formandos da Universidade de Stanford, em 2005. Ele contou que abandonou a faculdade para fazer um curso de caligrafia, narrou o episódio de saída da Apple e, por fim, falou sobre a doença que o acompanhava há anos, um câncer no pâncreas. E resumiu o mantra que criou para si: faça o que você ama e siga sua intuição.
Em seu livro Inovação, A Arte de Steve Jobs, Carmine Gallo, especialista em treinamento de executivos e estudioso da vida do pai da Apple, afirma que o método de trabalho de Jobs obedecia a sete mandamentos: faça o que você gosta, cause impacto no universo, coloque o cérebro para funcionar, venda sonhos em vez de produtos, diga não a mil coisas, crie experiências incríveis e defina bem sua comunicação. As diretrizes guiaram todo o trabalho do criador, do processo de criação dos produtos à sua divulgação.
Leander Kahney, autor do livro A Cabeça de Steve Jobs, adiciona outro ingrediente importante para a receita do sucesso, um componente que fez parte da personalidade do gênio empreendedor: controle. Jobs era extremamente perfeccionista e não admitia que nada fosse feito sem seu aval. Isso é tão claro que até nas embalagens dos produtos Apple há o toque dele. De acordo com Kahney, para Jobs, o ato de desembalar o produto é tão importante quanto o de usá-lo. Ele não foi o inventor do iPod, mas foi o responsável por tornar o tocador de MP3 um dispositivo que todos os usuários pudessem usar. Para isso, disse a engenheiros e designers o que iria funcionar ou não. Estava certo.
Trabalhar com prazer e manter controle sobre a própria criação são dois aspectos importantes no método Steve Jobs. Enquanto o primeiro tem um aspecto romântico, o segundo revela um elemento essencial para a Apple. Um exemplo: todos os lançamentos da empresa são envoltos por uma aura de segredo. Como será o novo iPhone? Quais as novas funcionalidades do iPad? Esses temas são debatidos em sites de tecnologia e também na imprensa em geral – além de virar assunto entre consumidores. O segredo busca potencializar o impacto das novidades. E mesmo com o vazamento quase diário de informações, Jobs conseguia causar um grande rebuliço cada vez que subia ao palco para mostrar um novo produto.
O controle total sobre seus produtos foi fundamental também para afirmar a marca Apple. Se o usuário quer usar o iOS, tem que comprar um iPhone. Se quer o Mac OS X, deve adquirir um Mac. Assim, a empresa monitora de perto seus usuários e não abre espaço para a divisão do negócio com outros fabricantes, como acontece com a Microsoft e o Google Android, para citar dois exemplos. Para Jobs, não havia meio termo. A história recente da tecnologia provou que ele estava certo.
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