A Apple pode anunciar, na próxima semana, a compra da Beats Electronics, fabricante do popular fone de ouvido Beats, o preferido das celebridades. A informação foi divulgada por fontes do jornal Financial Times mas, até o momento, não há confirmação oficial. Dr. Dre, rapper e cofundador da Beats, já pode ser visto comemorando em um vídeo intitulado “Apple = Beats 3.2 billions! The night everything changed” (Apple = Beats 3,2 bilhões! A noite em que tudo mudou, em tradução livre). Publicado pelo cantor e compositor Tyrese Gibson, o vídeo estava no Facebook, mas foi removido.
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Se a transação de 3,2 bilhões de dólares for confirmada, a Beats será a maior aquisição da história da Apple. Até agora, o maior investimento da companhia aconteceu em 1996, quando a companhia anunciou a compra da NeXT, fabricante de computadores que Steve Jobs fundou no período em que esteve afastado da direção da Apple. O investimento de 400 milhões de dólares na NeXT foi um divisor de águas: além de o sistema operacional servir de base para o Mac OS até hoje, a Apple recuperou Jobs, que liderou o desenvolvimento do iPod, iPhone e iPad – produtos que revolucionaram o mercado de tecnologia.
É difícil pensar que a compra da Beats poderia ser tão determinante para o sucesso da Apple nos próximos anos como aconteceu com a NeXT. Em nota divulgada após o FT publicar a reportagem sobre a aquisição, Gene Munster, analista principal da Piper Jaffray, consultoria especializada em tecnologia, afirmou que ainda não encontrou a razão para este movimento da Apple. “A Beats pode trazer uma marca global em música, mas a Apple já tem uma marca global e nunca fez uma aquisição apenas por amor a uma marca”, diz Munster. O analista considera que a empresa deveria investir em serviços de internet, como Twitter ou Yahoo.
Embora a Beats Electronics seja mais conhecida por seus fones de ouvido, a empresa fez um movimento recente que pode tê-la colocado no radar da Apple. Em janeiro deste ano, a empresa lançou um serviço de streaming de música, o Beats Music, que permite ouvir um catálogo de mais de 20 milhões de músicas de grandes gravadoras por meio da web e dispositivos com iOS, Android e Windows Phone. O serviço custa 10 dólares ao mês e funciona apenas nos Estados Unidos. Ainda não há previsão de lançamento do Beats Music em outros países, como o Brasil.
Com a aquisição da empresa, a Apple poderia expandir o seu alcance aos fãs de música. Desde o lançamento da iTunes Store em abril de 2003, ano que marcou o início da popularização do iPod (a empresa fechou o ano com mais de 2 milhões de unidades do tocador de músicas vendidas), a Apple pouco mudou o modelo de negócio da loja, que vende músicas e álbuns completos. Nos últimos anos, porém, o mercado de música mudou e serviços que oferecem assinatura de um catálogo de canções, em vez da venda individual, se popularizaram.
A Apple só passou a oferecer uma opção de streaming na metade de 2013, quando lançou o iTunes Radio. O serviço de rádio on-line – ele permite ouvir de graça várias estações com curadoria de DJs – pode ser acessado por meio dos dispositivos móveis da marca, mas inclui anúncios. Outra opção para ouvir músicas por streaming é assinar o serviço iTunes Match, que custa 24,99 dólares ao ano e cria uma cópia de todas as músicas do usuário na nuvem. Enquanto a primeira opção deixa a desejar por não oferecer playlists personalizadas, a segunda limita a biblioteca do usuário às músicas que o usuário já comprou. Ambas não decolaram.
“Ainda não está claro o que a Beats tem a oferecer à Apple. Talvez ela esteja interessada na tecnologia de streaming de música da empresa. A base de usuários do serviço não é grande o suficiente para ser interessante”, diz Frank Gillett, vice-presidente da Forrester Research, consultoria americana especializada em tecnologia, ao site de VEJA. Segundo fontes do site The Verge, o Beats Music conseguiu apenas 200.000 usuários desde o lançamento, em janeiro – a maior parte graças a acordos com operadoras nos Estados Unidos. O Spotify, principal concorrente, têm 24 milhões de usuários (sendo 10 milhões pagantes).
Além do interesse no serviço de streaming, analistas levantam outras possibilidades. Para Gillett, da Forrester, a Apple poderia estar interessada nas pessoas por trás da Beats Electronics e em sua experiência no mercado de música. Segundo fontes do jornal New York Post, o produtor musical Jimmy Iovine estaria em conversas com a Apple para trabalhar como “conselheiro especial” de Tim Cook, CEO da Apple, em projetos criativos. Além de ter fundado a Beats em parceria com Dr. Dre, Iovine é presidente do conselho das gravadoras Interscope, parte do grupo Universal Music, Geffen e A&M.
Embora os planos da Apple não estejam claros, a empresa pode acertar ao dar um impulso no comércio de música. Com as vendas do iPhone em alta e produtos como iPod e Mac perdendo espaço, o iTunes pode se tornar uma das apostas mais importantes da Apple. “Num futuro próximo, a Apple pode ganhar mais com o iTunes do que ganha com o Mac. A receita com o serviço não cresce tão rapidamente quanto com a venda de iPhone, mas os usuários sempre voltam para consumir mais conteúdo”, diz Horace Dediu, analista da consultoria americana Asymco.