Em 2019, a Huawei, uma das maiores empresas de tecnologia da China e do mundo, estava a um passo de se tornar líder no mercado de smartphones, quando novas sanções americanas alijaram a companhia, impedindo usuários de receber atualizações do sistema operacional Android pelo Google. A iniciativa dos Estados Unidos, aliada a novas restrições impostas na aquisição de semicondutores (chips), forçou a empresa a acelerar seu projeto de sistema operacional próprio, desenvolvido havia quase uma década e embutido em uma marca de aparelho de TV dois anos atrás, de forma a equipar com ele os smartphones, smartwatches e tablets da marca Huawei. Nesta semana, a big tech chinesa anunciou que seus dispositivos top de linha − os celulares Mate 40 e o dobrável Mate X2, bem como os relógios da série 3 e o tablet MatePad Pro − passam a operar agora com o sistema Harmony.
O HarmonyOS permitirá que a Huawei avance com sua estratégia de interligar múltiplos dispositivos da sua linha de produtos e de eventuais parceiros sem depender dos sistemas operacionais americanos. A fonte de inspiração, na verdade, seria uma líder americana do segmento, a Apple, que tem como política manter seu ambiente fechado, aprimorando sempre o renomado iOS e agora também utilizando seus próprios microprocessadores. Com o tempo, celulares mais antigos da Huawei, que ainda operam com o Android, poderão receber a atualização do HarmonyOS − ou HongmengOs, como é chamado localmente.
A companhia de tecnologia sediada na cidade de Shenzhen, no sudeste da China, é mais conhecida no Brasil não tanto por seus smartphones, mas por causa do esperado leilão da tecnologia 5G, que deverá multiplicar em 100 vezes a velocidade de transferência de dados quando implementada. A Huawei é uma das principais concorrentes no fornecimento de equipamentos para esse segmento, e especula-se que o Brasil estaria sofrendo pressão americana para bani-la da licitação que deve ocorrer neste ano. Nos Estados Unidos, a Huawei é acusada de fornecer informações sigilosas de usuários ao governo chinês, o que ela nega.