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Apple adotará serviço de assinatura de smartphones

Com as vendas dos iPhones em queda, gigante da tecnologia se prepara para diversificar suas receitas — outras empresas seguem o mesmo caminho

Por Victor Irajá Atualizado em 15 nov 2019, 11h43 - Publicado em 15 nov 2019, 06h00

Não faz muito tempo, cada vez que a Apple anunciava o lançamento de um novo produto, o mundo da tecnologia de consumo entrava em frenesi. Primeiro sob a batuta do fundador Steve Jobs e depois já na gestão do executivo-chefe Tim Cook, os figurões do universo digital se reuniam em um auditório em Los Angeles ou São Francisco para ver em primeira mão as novidades, mesmerizados. De imediato, os consumidores mais fiéis, os chamados early adopters, começavam a traçar a estratégia para comprar o produto em questão antes de todo mundo (basicamente juntar dinheiro e escolher a loja em frente à qual passar alguns dias e noites). Hoje, tais situações se tornaram bem mais raras. Tanto que o lançamento da empresa que mais ouriçou os applemaníacos em 2019 foi o de um minúsculo fone de ouvido à prova de suor, com sensores para cancelamento de ruído externo e preço de 250 dólares nos Estados Unidos — pouco mais de 1 000 reais.

Com uma política de preços altos, acuada pela concorrência agressiva e por novidades cada vez menos bombásticas, a Apple resolveu travar suas batalhas em outro campo. O gigante da tecnologia, ainda posicionado como a empresa mais valiosa do mundo, vai entrar pesado na área de serviços e atuar em um novo nicho: o das assinaturas de celulares. Por meio do programa, o cliente paga uma tarifa mensal à companhia, o que lhe garante ter sempre um modelo atualizado em mãos, associado a um pacote de benefícios. Com isso, a Apple mantém seu consumidor fiel à tecnologia e sua já polpuda cesta de serviços como iCloud, Apple Music e Apple Pay, entre outros. “Até pouco tempo atrás, a Apple se destacava por oferecer a melhor câmera, os displays mais bem resolvidos, o design mais elegante e os dispositivos mais atraentes. Hoje, isso mudou. Seus últimos produtos têm pouca inovação e são muito semelhantes aos de empresas como Samsung e Huawei, e que custam bem menos”, diz o presidente da consultoria IT Data, Ivair Rodrigues.

O recesso criativo da maçã californiana, além de visível nas prateleiras das Apple Stores, é facilmente constatado nos números. No último trimestre, a Apple amargou queda de 9% nas vendas de iPhone em relação ao mesmo período no ano passado — o lucro líquido da empresa caiu 3%, para 13 bilhões de dólares no último trimestre, em comparação com o mesmo período de 2018. Apesar de ainda serem a principal fonte de receita, os telefones (à venda em seis versões disponíveis no site da empresa com preços entre 3 399 e 9 599 reais) perderam participação nos lucros — foram superados, por exemplo, pelos minifones de ouvido, os AirPods, e pelos iPads. Entretanto, o crescimento da área de serviços foi exponencial, o que fez a empresa atentar para esse nicho — o avanço no primeiro semestre de 2019 em relação ao mesmo período de 2018 foi de 18%. O mais eloquente sinal de que a próxima novidade será o serviço de assinatura de celulares veio do próprio Tim Cook. “Existem muitos usuários que desejam um pagamento recorrente e o recebimento de novos produtos em algum tipo de padrão. Estamos comprometidos em tornar isso mais fácil”, declarou o executivo há duas semanas.

O novo pacote ainda não tem data definida de lançamento nem preços estabelecidos. Mas funcionaria da seguinte forma: pagamentos mensais dariam direito a armazenamento extra de dados na nuvem da companhia, o iCloud, e ao canal de streaming Apple TV+ — novidade que acaba de chegar ao Brasil neste mês para o confronto com a Netflix. Além disso, os pagamentos permitiriam a troca automática do iPhone a cada lançamento, sem custo adicional. “Os produtos da Apple são muito caros, principalmente os iPhones, o que leva os consumidores a ter maior disposição para testar os produtos da concorrência, com inovações semelhantes e preços mais atraentes”, diz a analista Tina Lu, da consultoria americana especializada em tecnologia Counterpoint.

PIONEIRISMO –  Cartaz para aluguel da Singer: ataque aos concorrentes (./.)

Assim como o touchscreen não foi invenção da Apple, a oferta de produtos por meio de assinaturas não é nenhuma novidade. Em meados do século XIX, a americana Singer produzia máquinas de costura inovadoras que passaram a ser rapidamente copiadas pela concorrência. Em 1856, o advogado Edward Cabot Clark, sócio da empresa, criou um sistema batizado de hire-purchase, pelo qual um aluguel mensal de 2 a 10 dólares poderia ser transformado em opção de compra do produto no fim do contrato — ou de troca por um modelo mais novo, com a manutenção das mensalidades. A medida garantiu à companhia o domínio absoluto do mercado por mais de 100 anos.

Nos últimos anos, os clubes de assinatura voltaram a chamar a atenção — tanto dos consumidores como dos fabricantes de bens de consumo. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico mostra que essa modalidade de venda apresentou avanço de 167% no país desde 2015 — 800 empresas oferecem a comodidade. O rol de produtos disponibilizados é variado, desde os mais comuns, como vinhos, livros e artigos para animais domésticos, até os mais caros, como automóveis.

AUTOMÓVEIS –  Contratos em parcelas por prazo fixo: entre o leasing e a locação (Uwe Anspach/Picture Alliance/Getty Images)

No Brasil, locadoras de veículos e seguradoras criaram pacotes mensais que dão direito a veículos, sem o ônus da manutenção ou do IPVA. Em uma empresa como a Porto Seguro, o leque de ofertas vai de um simples Ford Ka, por 999 reais por mês, a um Mercedes-Benz C180, por 5 799 reais mensais, em contratos de no mínimo um ano. “É interessante tanto para o consumidor quanto para as empresas. Existe a comodidade para o cliente de ter todo tipo de serviço sem que seja tão oneroso, enquanto as companhias fidelizam esse consumidor”, avalia Reynaldo Saad, sócio responsável pela área de consumo da consultoria Deloitte.

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Mesmo entre as grandes da tecnologia, a Apple entrará em território que alguns concorrentes diretos já ocupam há alguns anos. Fabricantes de computadores pessoais como Lenovo, Dell e HP oferecem um serviço similar voltado para empresas. Os pacotes envolvem a troca periódica das máquinas e a atualização de soft­wares a preços preestabelecidos, com assistência técnica incluída nas mensalidades. A HP, por sinal, dispõe de um serviço com máquinas da própria Apple. Em fevereiro do ano passado, o gigante dos computadores e impressoras, que teve Steve Jobs entre seus estagiários e cujas peças foram usadas por ele para construir seus primeiros computadores, expandiu a linha de pacotes de assinatura para produtos como Macs, iPhones e iPads, em um modelo muito parecido com o que a Apple quer lançar por sua conta. É exatamente o tipo de estratégia que Jobs aplicou com brilhantismo durante toda a sua vida: adaptar as criações alheias para criar produtos cada vez melhores e com isso se manter sempre no topo.

Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661

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