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Após multa de US$ 5 bi, Facebook deverá se preocupar mais com privacidade

Punida pelo uso indevido de dados de usuários, rede social terá de repensar o seu negócio

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 ago 2019, 14h58 - Publicado em 2 ago 2019, 07h00

“Se filmasse hoje, trataria mais do Facebook e de todo o seu poder.” A autocrítica é da cineasta americana Jehane Noujaim e foi extravasada em uma entrevista concedida por ocasião do lançamento de seu documentário Privacidade Hackeada, que estreou no último dia 24 na Netflix. O filme relata o maior escândalo a atingir a rede social que une 2,6 bilhões de pessoas mundo afora. No início do ano passado, ex-funcionários da consultoria política inglesa Cambridge Analy­tica revelaram que a empresa havia colhido, de forma ilegal, dados privados de cadastrados no site a fim de traçar estratégias para duas campanhas controversas (e vitoriosas): a que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos, em 2016; e a que sustentou o Brexit, na Inglaterra, naquele mesmo ano. O documentário, no entanto, foca mais a vileza da consultoria, e não “o Facebook e todo o seu poder”, como definiu Jehane. “Ao longo da história há exemplos de experimentos extremamente imorais. Brincamos com a psicologia de um país inteiro sem a autorização das pessoas, e no contexto de um regime democrático”, confessou o analista de dados canadense Christopher Wylie, que trabalhou na Cambridge Analytica, em depoimento exibido no filme.

ESCÂNDALO - ’Privacidade Hackeada’: relato da maior crise a atingir a empresa (Divulgação/Netflix)

Ninguém duvida que a consultoria tenha culpa no cartório. Entretanto, ela não estava só. A celeuma pôs em xeque a imagem do Facebook, levando Mark Zuckerberg, fundador e CEO, a depor no Congresso americano e no Parlamento inglês. Abriram-se investigações ao redor do planeta, principalmente na Europa e também no território americano. No mesmo dia em que o documentário Privacidade Hackea­da foi ao ar no universo digital, no mundo real ocorria o que deve ser um dos capítulos finais do famigerado caso da Cambridge. Naquela data, o gigante do Vale do Silício firmou um acordo de 5 bilhões de dólares com a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) para encerrar os processos aos quais respondia no país em consequência do escândalo. Mais do que isso, estabeleceram-se ali as exigências que, em tese, devem evitar que se repita uma invasão de privacidade de igual patamar.

(Arte/VEJA)

A multa da FTC foi a maior que o órgão já determinou — e segue uma tendência, iniciada na Europa, de punir o Facebook quando há exploração indevida das informações de usuários (leia o quadro). O acordo pode ainda abrir portas para que multas sejam aplicadas também em outros países nos quais a Cambridge Analytica garimpou dados — entre eles, o Brasil.

Uma das providências exigidas do Facebook pelo governo americano para tentar evitar que o problema volte a ocorrer é a criação de um “programa de privacidade”, que incluirá o monitoramento regular feito por um comitê independente, composto de políticos, cientistas e ativistas. A rede social ainda terá de, na prática, parar de repassar dados brutos a outras empresas — entre as quais, consultorias como a Cambridge Analytica e também anunciantes. A partir de agora, as informações dos usuários serão mais bem filtradas antes de ter autorizado o seu uso em propagandas.

Apesar da imagem arranhada em decorrência do episódio da consultoria inglesa, o Facebook nem de longe viu sua saúde financeira ser ameaçada por causa das multas que lhe foram aplicadas. No ano passado, a empresa registrou lucro líquido de 56 bilhões de dólares — mais de onze vezes o valor com que teve de arcar para encerrar o assunto da Cambridge Analytica nos EUA. “Desde que começou a operar, o Facebook sabe que, ao mexer com um negócio novo, acabaria por violar leis. E que teria de lidar com isso sem deixar afetar os lucros”, disse a VEJA o cientista social americano Binoy Kampmark, do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, conhecido por ter cunhado o termo “economia de irregularidades”, com o qual descreve o método da rede social. O que se espera agora é que o caso da Cambridge Analytica sirva para que o Facebook passe a se preocupar mais com aquilo que é a base “de todo o seu poder”: os dados confiados a ele por mais de um terço da população da Terra.

Publicado em VEJA de 7 de agosto de 2019, edição nº 2646

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