Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Suplemento de vitamina D passa a ser indicado apenas a grupos específicos

Em alta desde a pandemia, reposição da substância não precisa entrar na rotina de todo mundo e nem é isenta de riscos quando feita sem orientação médica

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 jun 2024, 14h12 - Publicado em 28 jun 2024, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Sua história já nasceu em meio a controvérsias. Descoberta no início do século XX como a peça-chave que faltava no organismo de crianças com raquitismo, ela foi erroneamente classificada como uma vitamina. Duas décadas depois, cientistas entenderam que se tratava de um tipo de hormônio, mas a alcunha já tinha pegado. Era a vitamina D, uma molécula que, quase seis décadas depois que começou a ser sintetizada em laboratório, ganhou ares de panaceia. Com a humanidade cada vez mais enfurnada em ambientes fechados, a substância produzida naturalmente pelo organismo com a exposição solar teria atingido níveis deficitários em massa. E a solução, fácil, seria na forma de suplementos. Alguns médicos e pacientes passaram a enxergar nas cápsulas e gotinhas uma fórmula para prevenir e até sanar um extenso rol de doenças — de câncer a distúrbios autoimunes, passando por infecções. Na pandemia de covid-19, o produto foi alçado a escudo contra o vírus — sem evidências robustas favoráveis — e as vendas estouraram de vez.

    Sim, muita gente se beneficia da suplementação, mas repor vitamina D não é algo indicado a todo mundo nem isento de riscos quando feito sem orientação médica. Ciente das polêmicas, a Endocrine Society, entidade que representa a classe da endocrinologia internacionalmente, acaba de atualizar as regras do jogo, estabelecendo os grupos que realmente tiram proveito do hormônio, como crianças, adolescentes, gestantes e idosos, a fim de evitar prescrições e usos desnecessários e até nocivos. As diretrizes foram elaboradas por um painel de especialistas, que analisou os principais estudos sobre o tema e as questões de acesso e saúde pública pertinentes. Depois de quatro anos de trabalho, o guia pretende ser o mais universal possível, visando corrigir tanto o problema da deficiência do hormônio quanto o emprego indiscriminado. “A revisão da literatura informa não fazer sentido recorrer a cápsulas e gotas para prevenir doenças entre adultos saudáveis”, diz a endocrinologista Marise Lazaretti-Castro, professora da Unifesp, uma das autoras do documento. “É diferente do que recomendamos a pacientes com osteoporose e outras condições ósseas, que necessitam do suplemento.”

    Os experts identificaram, pelos dados avaliados, um excesso na solicitação de exames para checar os níveis da substância no sangue — fenômeno amplificado após a onda de covid-19. Ainda que a vitamina D participe do nosso sistema de defesa, no período pandêmico o suplemento integrou, sem nenhuma comprovação, coquetéis para imunidade e kits de tratamento precoce. Não por menos, entre 2020 e 2022, as vendas dobraram. Em São Paulo, a demanda por testes para avaliar as taxas no corpo aumentou 14% no primeiro semestre do ano passado em relação ao mesmo período de 2022 na rede estadual. O exame nem sempre é fornecido pelo SUS ou coberto por convênios.

    Com base nas pesquisas disponíveis, a Endocrine Society atesta a importância da reposição na população de 1 a 18 anos, não só para evitar o raquitismo, mas também para minimizar o risco de infecções respiratórias. Com jovens imersos em celulares e videogames, sem contato com o sol, a principal fonte do hormônio crítico para a absorção de cálcio e a formação óssea, a prescrição para adolescentes ganhou força. “A diretriz reforça que alguns grupos devem tomar a vitamina D em doses baixas e diárias sem a necessidade de dosá-la no sangue”, diz o endocrinologista Sérgio Maeda, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso). A orientação se destina aos mais novos, a idosos acima de 75 anos, a gestantes (a fim de precaver complicações maternas e fetais) e a indivíduos com pré-diabetes em risco de evoluir para a doença em si.

    Continua após a publicidade
    NOS EXTREMOS - Efeito protetor: substância é orientada a crianças e idosos
    NOS EXTREMOS - Efeito protetor: substância é orientada a crianças e idosos (//Getty Images)

    Para os adultos saudáveis na faixa de 19 a 74 anos, a regra geral é que não há necessidade de se submeter a exames nem fazer uso de suplemento, muito menos por conta própria. “A vitamina D tomou um aspecto de bala de prata, capaz de curar tudo, mas requer prescrição, assim como fazemos com qualquer outra reposição hormonal”, afirma o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto. Isso porque a utilização sem critério e em altas doses oferece ameaças à saúde. “Ela pode causar, entre outras coisas, intoxicações, pedras nos rins, convulsões, arritmia e insuficiência renal.” As novas normas chegam em um momento propício, em que a população é convocada a depender menos de pílulas e telas e a adotar um estilo de vida mais ativo, de preferência ao ar livre. Eis o primeiro consenso. O segundo é que suplementos e medicamentos são, sim, muito bem-vindos, desde que você precise deles.

    Publicado em VEJA de 28 de junho de 2024, edição nº 2899

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.