



Os órgãos são compostos de vários tecidos, de natureza muito diferente.” A afirmação, cunhada no fim do século XVIII pelo anatomista francês Marie François Xavier Bichat (1771-1802), serviu de epígrafe, aparentemente simples mas espetacularmente objetiva, a um novo caminho na medicina. Pela primeira vez, um médico compreendia mais detalhadamente a complexidade do organismo humano. Bichat realizou centenas de autópsias para alcançar o centro de sua conclusão. Em um ano, chegou a dissecar 600 cadáveres. Obcecado, passava as noites no necrotério para se dedicar ao estudo com os corpos. Bichat macerava os tecidos, assava-os, fervia-os, secava-os e observava como se decompunham. Um de seus achados permitiu a criação, dois séculos depois, de um dos mais curiosos, modernos e procurados procedimentos estéticos – a cirurgia de redução de bochechas para ressaltar as maçãs do rosto. O procedimento consiste na retirada de um pedaço da porção de gordura das bochechas chamada de “bola de Bichat”, evidente referência ao anatomista francês que dormia com os mortos. A técnica foi batizada com um nome um tanto risível – bichectomia -, mas é tratada com rara seriedade por quem deseja mudar o rosto.
Vê-se o resultado da bichectomia em mulheres lindas, que aparentemente nada teriam a corrigir e que agora desfilam com as maçãs faciais protuberantes. A lista é nobre: começa com a estrela de reality show Kim Kardashian, passa pelas atrizes Angelina Jolie e Jennifer Lopez e termina com a onipresente Madonna. Diz o cirurgião João de Moraes Prado Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica: “O rosto ganha um aspecto mais jovem e magro com a valorização das maçãs”. É o sonho de absolutamente todas as mulheres do mundo.
A bichectomia é sucesso recente no Brasil. Em 2015, foram realizadas trinta cirurgias desse tipo a cada mês. Um número três vezes superior em relação ao mesmo período de 2014. O procedimento é simples. Feito com anestesia local, ele tem duração de cerca de trinta minutos. A extração da gordura é realizada pela parte interna das bochechas, por meio de uma pequena incisão. A recuperação é rápida. “O processo é muito semelhante ao de extração de um dente do siso”, diz Eduardo Kanashiro, cirurgião plástico e chefe do Ambulatório da Face, do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. Recomenda-se repouso por cerca de dois dias, tempo de duração do inchaço no rosto.
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