Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Respiração lenta pode diminuir risco de Alzheimer, diz estudo

Pesquisa aponta que prática aumenta as oscilações de frequência cardíaca e diminui os níveis de beta-amiloide, proteína associada à doença

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 ago 2023, 12h56 - Publicado em 16 ago 2023, 10h35

Um novo estudo da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, publicado na Nature, descobriu que a respiração lenta e controlada pode ajudar a proteger contra a doença de Alzheimer. Além dos inúmeros benefícios já conhecidos pela ciência, os exercícios respiratórios estão sendo utilizados não só para acalmar, mas também para ajudar a melhorar uma variedade de condições de saúde, incluindo hipertensão, estresse, ansiedade e dores crônicas, e agora, também como “uma surpreendente proteção contra o Alzheimer”, como descreveram os pesquisadores.

No estudo, os cientistas mediram biomarcadores no plasma sanguíneo que estão associados a um maior risco de desenvolver Alzheimer, particularmente a proteína beta-amiloide 40 e 42. Metade dos 108 participantes foi instruída a tentar se acalmar imaginando um ambiente sereno, fechando os olhos e ouvindo sons relaxantes, como uma meditação mindfulness. O objetivo era diminuir as oscilações da frequência cardíaca, incentivando o coração a realizar uma batida mais estável e consistente.

O outro grupo seguiu um exercício de respiração pela tela do computador – quando um quadrado subia ao longo de cinco segundos, eles inspiravam e, quando descia por cinco segundos, eles expiravam. Verificou-se que esse tipo de respiração profunda e lenta aumenta as oscilações da frequência cardíaca – tornando o intervalo de tempo entre as batidas do coração mais variável. Ambos os grupos praticaram a técnica duas vezes ao dia, por 20 a 40 minutos cada vez, durante cinco semanas.

“Após quatro semanas de prática, quando as amostras de sangue foram analisadas, tivemos uma surpresa”, diz Mara Mather, professora de gerontologia, psicologia e engenharia biomédica da Universidade do Sul da Califórnia e uma das autoras do estudo. “Os exercícios respiratórios destinados a aumentar a variabilidade da frequência cardíaca diminuíram os níveis de beta-amiloide. E os exercícios de atenção plena, que diminuíram a variabilidade da frequência cardíaca, aumentaram esses níveis”, completa.

Embora nenhuma causa única definitiva tenha sido identificada para causar a doença de Alzheimer, sabe-se que aglomerados de proteína beta-amiloide são uma das principais características da doença. Certos tipos dessa proteína também podem ser particularmente tóxicas quando se aglomeram dentro das células cerebrais, causando danos que afetam sua função normal e levando-as à morte.

Continua após a publicidade

Mather e sua equipe não esperavam que os níveis de beta-amiloide fossem “afetados de forma tão robusta”. E não foi apenas para adultos mais velhos que já podem ter sido mais suscetíveis a níveis mais altos da proteína. “Os efeitos foram significativos em adultos mais jovens e mais velhos”, afirma a pesquisadora. “Esta é uma descoberta intrigante porque, em adultos saudáveis, os níveis plasmáticos mais baixos de beta-amiloide estão associados a um risco menor de contrair a doença de Alzheimer mais tarde. Ou seja, a respiração lenta pode trazer benefícios não apenas para o bem-estar emocional, mas também para melhorar os biomarcadores associados à doença de Alzheimer”, conclui.

Os pesquisadores não sabem ao certo por que, exatamente, isso pode acontecer. Mas uma hipótese é que a respiração lenta pode imitar alguns dos benefícios do sono profundo, que segundo a pesquisa pode eliminar resíduos neurotóxicos do cérebro e do sistema nervoso em um ritmo mais rápido. O acúmulo desses produtos residuais parece desempenhar um papel no desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Mas o fator-chave parece ser como cada exercício afetou a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), que reflete quanta flutuação existe entre os batimentos cardíacos. A pesquisa indica que essa variabilidade é uma boa métrica para o funcionamento do sistema nervoso e, portanto, um indicador da saúde geral e de várias condições de saúde, desde a depressão e estresse crônico até infecções virais e sepse. “Curiosamente, mais variabilidade (ou seja, um padrão menos consistente) parece ser muito mais saudável, talvez porque mostre a capacidade do corpo de se adaptar aos estressores”, explica a pesquisadora.

Independentemente do mecanismo exato, no entanto, a prática regular de respiração lenta pode beneficiar a maioria das pessoas. “Ainda não sabemos qual é a dose ideal. Mas provavelmente não precisa ser todos os dias. Meu palpite neste momento é fazer 20 minutos, de quatro a cinco vezes por semana”, indica Mather.

Continua após a publicidade

O estudo, porém, não comparou diferentes tipos de técnicas de respiração, então os pesquisadores ainda não sabem qual tipo de padrão de respiração pode ser mais eficaz. “O que sabemos é que respirar em qualquer ritmo entre 9 e 14 segundos por respiração aumenta as oscilações da frequência cardíaca e é eficaz na redução dos níveis plasmáticos de beta-amiloide”, aponta a especialista.

A pesquisa também ainda não foi replicada em um número maior de pacientes para confirmar se existe um efeito significativo a longo prazo. Alguns cientistas expressaram dúvidas sobre como as técnicas de respiração eficazes ou confiáveis ​​podem ser comparadas aos tratamentos com medicamentos, mas esse não é o único estudo nos últimos anos a descobrir os benefícios dos exercícios respiratórios para a saúde.

Outros estudos já demonstraram que a respiração pode reduzir a pressão arterial em pessoas com hipertensão, ajudar a aliviar os sintomas de ansiedade e depressão e reduzir a insônia. Uma metanálise recente também descobriu que poderia diminuir o estresse e melhorar a saúde mental.

Nos Estados Unidos, a respiração já começa a ir além das aulas de ioga e meditação para retiros corporativos e escolas. Na cidade de Nova York, o prefeito Eric Adams anunciou recentemente que todas as escolas públicas terão que ministrar sessões diárias de respiração consciente aos alunos. “Há uma ciência na respiração”, disse. E muitos pesquisadores, inclusive Mara Mather, concordam com ele.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.